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Vinhos Portugueses nos Estados Unidos
23.novembro.2005
Tania Menai, de Nova York
Ao deixar Nova Orleans um dia antes de o furacão Katrina assoprar a cidade, o sommelier americano Christian Havener escolheu apenas duas garrafas de vinho para levar consigo. E ambas de Portugal. “Um tinto datado de 1977, uma das melhores safras, e um Fonseca de1985”, conta ele sentando no bar do restaurante Amélie, no French Quarter, um dos poucos restaurantes que reabriram depois da catástrofe deixada pelo furacão. “Porto é um dos vinhos mais consumidos nos EUA, é sempre citado na revista Wine Spectator – mas sempre bebo Vinhos Verdes também”, acrescenta. Ele conta que, historicamente, os EUA não tinham vinícolas californianas, tampouco importavam vinhos franceses ou espanhóis. Na virada do século passado, os vinhos entravam nos EUA por quatro portos – Nova York, Nova Orleans, Charleston, na Carolina do Sul, e São Francisco. “Aqui bebia-se vinho Madeira, que não estraga. Se você deixar vinte anos na casa da sua mãe em New Orleans, ele fica ainda melhor. Não há vinho que resista melhor ao calor, além de ser delicioso”, diz Havener.
Timidamente, os vinhos portugueses começam a ganhar reconhecimento na América do Norte. Em outubro, Eric Asimov, crítico do New York Times, dedicou sua coluna sobre o assunto aconselhando os leitores que desejam apostar no futuro, para olharem para Portugal. Disse que as uvas fazem dos vinhos portugueses diferentes dos outros, elegeou o Quinta do Vale Meão de 2001 como o melhor de sua lista de dez, e não deixou de mencionar que os vinhos são “honestos”, apesar de o país viver num “isolamento esplêndido.” No ano passado, John Brecher e Dorothy Gaiter, colunistas de vinho do Wall Street Journal escolheram 50 vinhos tintos portugueses, todos por menos de 20 dólares em prateleiras de Nova York, New Jersey, Illinois e Califórnia. Experimentaram todos. E chegaram a uma conclusão: não há como compará-los aos tintos americanos. “Há uma imensa variedade de uvas que nem conhecemos os nomes – e todos os sabores são marcados pela região a qual pertencem em Portugal”, diz Dottie, como é chamada, que junto com John elegeu Meandro do Douro como o melhor dos cinquenta vinhos e pelo qual pagaram $ 14,99 (apesar de a média destes custar $17,99). O Cortes de Cima 1998 Reserva do Alentejo também recebeu uma menção honrosa. Na coluna, eles notam o quão barato os vinhos portugueses são em comparação aos demais, dizem que combinam com uma imensa variedade de pratos, e reparam que os vinhos de Dão são os mais comum nas prateleiras, apesar de vinhos de outras regiões estarem entrando no mercado.
Até mesmo a edição de 2005 do guia Rough Guides, que serve os turistas de língua inglesa, cita que Portugal é hoje reconhecido internacionalmente pela excelência de suas vinícolas. “Quem experimenta nossos vinhos, gosta imenso”, orgulha-se Jorge Neves, dono do Pão!, o mais conhecido restaurante português de Manhattan – e que só serve vinhos portugueses. Ele conta que é fácil para donos de restaurantes comprarem vinhos portugueses – há uma escolha boa, apesar de as quantidades não serem grandes. Ele mesmo compra vinhos de seis revendedores que representam algo entre 40 a 50 produtores diferentes. Entre brancos e tintos, Jorge calcula uma variedade de 80 vinhos em seu restaurante. “Contudo, os portugueses não se promovem” diz ele. “Por acaso na semana passada fizeram uma prova de vinho bem feita, mas no geral, não fazem absolutamente nada para consquistar o mercado”. Ele conta que os produtores de vinho não se entendem entre si, por isso não há uma política de promoção conjunta. “O governo também não faz quase nada”, diz ele. “Há dez anos os espanhóis estavam nesta mesma situação – mas começaram a fazer um trabalho incrível ao promover o país, seus vinhos e sua comida. Já nós continuamos sem uma imagem”, lamenta. “Em termos de qualidade somos tão bons ou melhores que os espanhóis – mas eles ganharam o mercado”. O mesmo problema é apontado por vendedores de lojas de bebidas alcoólicas.
“Vendo muito Vinho Verde durante o verão”, diz Phill D’Ancona, dono do Columbus Circle Wine & Liquor, um dos melhores lugares para comprar vinhos em Nova York, segundo o guia Zagat Survey, a bíblia gastrônomica local. “Mas, de forma geral, os portugueses não fazem nada para se ajudar. Não fazem provas de vinho suficientes, não se divulgam, não se promovem. Isso dificulta o trabalho deles e o nosso”, acrescenta. A variedade também é discreta no Chelsea Wine Vault, no supermercado gourmet Chelsea Market. “Temos apenas cinco tipos aqui - Baco Real, um cabernet e Vinho Verde. Os consumidores procuram mais por vinhos italianos, franceses e espanhóis”, explicam os vendedores David e Cinthia. No FreshDirect.com, o supermercado online que virou febre em Nova York, os portugueses lideram a categoria de vinhos de sobremesa, e ainda conta-se quatro ou cinco vinhos verdes e tintos. O mais caro, Churchill’s LBV Porto de 1999, da região do Douro, custa 25 dólares.
Em Montréal, a cidade mais gastronômica do Canadá, a história se repete. “Os montrealenses adoptam facilmente as coisas que vêm de outros paises, incluindo os vinhos portuguêses”, diz Carlos Ferreira, proprietário do Ferreira Café, o mais sofisticado restaurante português em Montréal cuja carta de vinhos dispõe de 200 produtos nacionais. Ele aponta, contudo, que em Montréal estes vinhos não são muito acessíveis ao público. “A oferta é muito limitada, repetitiva e de qualidade a desejar. Isto dificulta a percepção da qualidade dos vinhos portuguêses”, diz ele, que também é dono do Vasco da Gama, um restaurante mais acessível, chefiado por sua irmã, Olivia. Ferreira conta que os vinhos portuguêses chegam ao Québec via agentes que intermediam os produtores e a Sociedade dos alcools do Québec (SAQ). “Aqui existe tanto uma clientela para vinhos baratos – como os vinhos verdes – quanto consumidores mais informados, que seguem as criticas de revistas especializadas. Estes consomem os vinhos da região do Douro”, conta. “Falta aos portuguêses um pouco de humildade. É preciso ir mais fora para ver o que fazem os outros, e apostar no marketing dos vinhos de Portugal. Ver grande, ver longe”, aconselha Ferreira.
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NEW YORK TIMES
Tasting Report: Moving Beyond Memories of Mateus
Quinta do Vale Meão 2001
$55
*** 1/2 [Rating: Three and a Half Stars]
Rich and complex yet precise and focused; should soften and evolve with time. (Importer: W.J. Deutsch & Sons, Harrison, N.Y.)
Quinta do Fojo Vinha do Fojo
1998
$56
*** [Rating: Three Stars]
Polished and balanced; flavors of plum, dried fruit and menthol stand up to firm tannins. (Europvin, Oakland, Calif.)
Wine & Soul Pintas
2001
$60
*** [Rating: Three Stars]
Dense yet balanced with spice, earth and fruit flavors. (Eric Solomon Selections, Charlotte, N.C.)
Quinta da Gaivosa
1997
$30
** 1/2 [Two and a Half Stars]
Soft and lush with plenty of lingering fruit flavors and a touch of earthiness. (Aidil Wines and Liquors, Rahway, N.J.)
BEST VALUE
Sogrape Reserva 2000
$12
** 1/2 [Two and a Half Stars]
Balanced and accessible with dense fruit, licorice and mineral flavors. (Evaton Inc., Stamford, Conn.)
José Maria da Fonseca
Domini 2000
$15
** 1/2 [Rating: Two and a Half Stars]
A straightforward crowd-pleaser, with aromas of berries, spice and chocolate. (Commonwealth Wine and Spirits, Mansfield, Mass.)
Quinta da Manuela
2000
$60
** [Rating: Two Stars]
Likeable and earthy with fruit, mineral and mint flavors. (Tri-Vin Imports, Mt. Vernon, N.Y.)
Lavradores de Feitoria Quinta da Costa
das Aguaneiras 2001
$25
** [Rating: Two Stars]
Tannic with jammy, meaty flavors and aromas. (Eric Solomon Selections, Charlotte, N.C.)
Lavradores de Feitoria
Três Bagos 2002
$17
** [Rating: Two Stars]
Intense sweet fruit, firm tannins and plenty of oak, yet balanced. (Eric Solomon Selections, Charlotte, N.C.)
Quinta dos Quatro Ventos
2000
$25
** [Rating: Two Stars]
Dark fruit flavors balance tannins and acidity to a standoff. (Tri-Vin Imports, Mt. Vernon, N.Y.)
WHAT THE STARS MEAN:
(None) Pass It By
* Passable
**Good
*** Excellent
**** Extraordinary
WALL STREET JOURNAL
More value-priced dry red wines from Portugal are hitting the market these days. We picked up 50 under $20 for a blind tasting. These are our favorites, but there's no telling what Portuguese wines you will find in your area. These are often paired with cod dishes, but if, like us, you don't often make cod, think about beef stew, eggplant parmigiana and other earthy dishes.
VINEYARD/VINTAGE: Meandro (Quinta do Vale Meao; F. Olazabal & Filhos) 2000
(Douro)
PRICE: $17.99*
RATING: Very Good
TASTERS' COMMENTS: Best of tasting. Smoky and deep, big and rich. Truly
fine, with tobacco, blackberries and blueberries.
VINEYARD/VINTAGE: Quinta dos Aciprestes (Real Companhia Velha) 1999 (Douro)
PRICE: $10.99
RATING: Very Good
TASTERS' COMMENTS: Best value. Inky, with black-purple flavors and a dryness
that made us think of grape skins and earth.
VINEYARD/VINTAGE: Luis Pato `Baga' 2000 (Beiras)
PRICE: $11.99
RATING: Good/Very Good
TASTERS' COMMENTS: Fermented black pepper and coffee grounds, with a fairly
light body and very dry. Interesting.
VINEYARD/VINTAGE: Palha-Canas (Quinta da Boavista; Casa Santos Lima) 2001
(Estremadura)
PRICE: $9.99
RATING: Good/Very Good
TASTERS' COMMENTS: Dark and rich like unfiltered ripe fruit, yet easy to
drink. A little chocolate.
VINEYARD/VINTAGE: Porca de Murca `Reserva' (Real Companhia Velha) 2000
(Douro)
PRICE: $13.99
RATING: Good/Very Good
TASTERS' COMMENTS: Loads of character, with an almost chewy, earthy taste
and a very, very dry finish.
VINEYARD/VINTAGE: Prazo de Roriz (Quinta de Roriz) 2002 (Douro)
PRICE: $14.99
RATING: Good/Very Good
TASTERS' COMMENTS: Filled with fruit and earth. Rich with Port-like tastes.
Classy.
VINEYARD/VINTAGE: Quinta da Estacao (Quinta da Gaivosa; Alves de Sousa) 2001
(Douro)
PRICE: $7.99
RATING: Good/Very Good
TASTERS' COMMENTS: Rustic, earthy and very easy to drink. A great hamburger wine.
[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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