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Re-Nova York. A cidade em 2016
01.setembro.2006
Tania Menai, de Nova York
Nos próximos dez anos, Nova York, uma cidade com 8 milhões de habitantes, estará se preparando para abrigar mais um milhão de pessoas. E a mudança já é visível. Ao caminhar pelas ruas, testemunha-se edifícios sendo erguidos rapidamente – todos eles com alturas (e preços) colossais. Comissionando dezenas de megaconstruções a renomados arquitetos internacionais como Renzo Piano, Frank Ghery, Rafael Viñoly e Santiago Calatrava, estas novas moradias, além de espaços comercias e públicos Nova York terá uma cara (quase) nova em 2016. E como a cidade não tem para onde crescer – Manhattan, por exemplo, é uma ilha que se extende em apenas 22 quilômetros de norte a sul – os bairros se renovam, tornam-se mais caros, ganham novas arquiteturas - e a cidade, uma nova silhueta. Os projetos estão espalhados diferças áreas – Queens, Brooklyn, Staten Island. O West Harlem, que fica na parte norte de Manhattan, por exemplo, poderá ser o novo endereço dos teatros da Broadway daqui a dez anos. A rua 125, onde Bill Clinton tem seu escritório, tem recebido megainvestimentos e talvez ocupe o lugar que hoje pertence à Times Square – mas que décadas atrás, era privilégio da rua 23.
“Os prédios em Nova York têm capacidade de mudar de acordo com o clima. Do topo do Empire State, Manhattan parece uma floresta - muda constantemente de cor”, diz o renomado arquiteto italiano Renzo Piano. “Depois da chuva a cidade fica azulada. Durante o pôr-do-sol, avermelhada. Esta idéia é metamórfica”, acrescenta ele, que ingressou sua carreira internacional ao vencer, na década de 70, o concurso para construir o museu George Pompidou, em Paris. Autor de várias obras em Nova York, esta cidade de oito milhões de habitantes, Piano é o maestro do novo prédio do jornal The New York Times, a ser inaugurado no ano que vem, em frente à rodoviária de Manhattan, na Oitava Avenida com a rua 41. “Em Nova York é importante ter uma presença que não seja nem arrogante, nem agressiva. Frequentemente, os prédios altos são símbolos de poder – alguns chegam a ser símbolos fálicos. Este prédio não será assim – ele nos remeterá à sensibilidade – haverá muito vidro e cerâmica”.
Ao contrário do que se poderia imaginar, os atentados ao World Trade Center não intimidaram ninguém. “ Não podemos reagir a esta tragédia contruindo prédios que sobrevivam ao terrorismo. Nada sobrevive ao terrorismo”, nota Piano. “Os americanos escolheream um europeu como eu para projetar o prédio do New York Times porque buscavam uma visão mais humanística para um prédio deste tipo. Obviamente a tragédia do World Trade Center foi enorme. Mas as torres gêmeas eram completamente fora de escala, além de arrogantes”, acrescenta. Além disso, ao contrário do que todos poderiam imaginar, mesmo depois da tragédia o mercado mobiliário não parou de borbulhar. “Os atentados de 11 de setembro machucaram as vendas por três semanas. Depois disso, tudo voltou ao normal”, diz o corretor carioca Marcos Cohen, que atua em Nova York há 12 anos. “Os americanos são muito patriotas”, lembra ele. “Menos de três meses depois aos ataques, um apartamento da Park Avenue foi vendido por 18 milhões de dólares, um recorde na época”, diz Cohen, ressaltando a importância das avenidas Décima, Décima Primeira e Décima Segunda na revitalização da cidade. “Há pouquíssimos anos, ninguém pensava em morar lá. Hoje, esta área está valorizadíssima”.
Isso bom para muitos e nem tanto, na visão de outros. Afinal, o que faz Nova York ser tão especial é a vida de rua, coisa que prédios autosuficientes por todos os lados pode acabar matando. Os próprios moradores fizeram campanha contra quando o prefeito Michael Bloomberg resolveu construir um estádio de beisebol em Manhattan. O projeto não vingou. “O grande barato de Nova York é caminhar. Trata-se de uma cidade em escala humana, onde há muito comércio nas ruas e as calçadas são tomadas pelos pedestres,” diz o historiador Kenneth Jackson, o mais respeitado quando o assunto é Nova York. “O World Trade Center, por exemplo, se isolava disso – era uma cidade dentro da cidade. Era preciso chegar lá por uma garagem ou por trem ou por metrô. Não havia lojas em seus limites, o que lembra muito a maneira como são os prédios de Detroit. Mas não é isso que faz de Nova York a cidade que ela é”, nota ele, autor da Enciclopédia de Nova York. “Daqui a dez anos Nova York terá perdido o que ela tem de mais precioso: a vida de rua, a lojinha da esquina, a padaria, a vida de vizinhança”, repara o fotógrafo paulista Vik Muniz, que vive no Brooklyn, munincípio onde o arquiteto americano Frank Ghery (que vive na Califórnia) bola um complexo de edifícios. “Não entendo por que os americanos acham que todas as cidades devem ser iguais – uma obra do Frank Ghery poderia cair bem em New Jersey. Mas o Brooklyn não precisa disso – este é um lugar de prédios baixos”, diz ele. “A cidade vai acabar ficando chata.”
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[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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