"O que não está normal é o stress."
05.outubro.2008
Tania Menai
“A vida continua normal”, diz um paulista que trabalha no DeutscheBank, em Wall Street. “O que não está normal é o nível de estresse”, confessa. “Estamos tão cansados que hoje ninguém mais teve forças para se abalar ao ver os números despencarem novamente”, acrescenta ele, que prefere não ser identificado, assim como boa parte dos funcionários do mercado financeiro em Nova York. Ele lembra ainda que alguns bancos cortaram funcionários, mas que um terço dos profissionais da Lehmann Brothers, banco que quebrou há duas semanas, já foram absorvidos pelo mercado.
“Hoje, trabalhar em mercados emergentes é o melhor que profissionais desta área podem fazer. Por isso estou voltando para São Paulo”, diz o economista Ricardo Amorim, apresentador do Manhattan Connection, que trocou esta semana o banco que trabalhava em Nova York por um novo negócio na capital paulistana. Ainda que invisível, crise tende a afetar lentamente algumas partes dos Estados Unidos e deixam preocupados os donos de pequenos negócios, que totalizam 27 milhões de empresas nacionais, que empregam cada uma até 500 funcionários. Estas, segundo uma reportagem do New York Times, já passam dificulades para pedir empréstimos a bancos que outrora emprestariam num piscar de olhos.
Fora este cenário, quem passeia por Nova York não sente clima de tragédia. A Câmera de Comércio de Nova York ainda não divulgou nenhum boletim, e a uma porta-voz do New York City Econimic Development Corporation, organização que promove o crescimento da cidade, disse ao Estadão que “a cidade ainda não foi impactada diretamente, apesar de estar se preparando. Segundo ele, “a cidade tenta se diversificar economicamente para não depender exclusivamente de Wall Street.” Este também foi o discurso do prefeito Mike Bloomberg, que acaba, inclusive, de anunciar a vontade de exercer um terceiro mandato. Segundo ele, “a cidade sabe que a perda de empregos irá impactar nos impostos e na vida de famílias, mas ainda é cedo para quantificar perdas.”
Academias continuam lotadas, assim como cinemas, parques e lojas. Os restaurantes também sinalizam que a crise ainda não bateu à porta. Uma tentativa de reserva para uma mesa de quatro pessoas para a próxima sexta ou sabado, em alguns dos restaurantes considerados os "predieltos" pelo guia Zagat, e que custam em media 70 dólares por pessoa, serve como exemplo. Em ambas noites o americano Union Square Cafe, há uma mesa disponível às dez da noite (note que o restaurante abre para jantar às 5 da tarde) e no japonês Nobu só consegue-se uma mesa para as seis da tarde. Já no francês Balthazar não há mais lugar para sábado, e apenas uma mesa às onze horas na sexta.
Segundo Katy Leibold, relações públicas do USHG, um dos maiores grupos de restaurantes de Nova York, os nova-iorquinos certamente irão cortar custos em restaurantes. Mas o Gramercy Tavern, um dos estabelcimentos do grupo (e o mais popular da cidade) é hoje onde os locais se sentem confortáveis e sempre voltam. "Temos sorte, recebemos 300 pessoas por dia, a nossa capacidade máxima", diz. Quando for fácil reservar uma mesa em algum destes estabelecimentos, é hora de se preocupar.
# # #
[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
---
voltar |