Coco Chanel
04.novembro.2009
Tania Menai, de Nova York
“Queria me sentir mais leve, então criei uma moda assim, leve”, disse certa vez a estilista francesa Gabrielle “Coco” Chanel, que nasceu na virada do século retrasado, viveu anos luz `a frente de seu tempo e faleceu em 1971, aos 88 anos. “As mulheres da minha época não pareciam humanas. Suas roupas iam contra sua natureza. Devolvi-lhes liberdade, dei-lhes pernas e braços de verdade”, afirmava. Com este conceito, Chanel foi responsável pela criação daquele tubinho preto que está pendurado no seu, no meu, no nosso e no vosso armário. Fêmea de forte personalidade, Chanel criou não só sua grife, mas um estilo. Alta, magra e atlética, Chanel era a modelo de si mesma. “Ela criou modelos que podem ser usado por qualquer mulher, de qualquer época, em qualquer lugar”, disse Andrew Bolton, um dos curadores de “Chanel”, exposição de 60 peças que ele preparou para o Metropolitan Museum of Art, de Nova York, em 2005. “Ela se inspirou em modelos da classe proletária, da roupa masculina, do uniforme militar”, conta o curador.
O filme “Coco Before Chanel”, onde ela é interpretada pela francesa Audrey Tautou, deixa a desejar, mas mostra como a menina Gabrielle era, de fato, diferente das “mulheres fru-frus”. Certa vez, Chanel contou ao pintor espanhol Salvador Dalí que “tudo o que ela fez na vida foi transformar a roupa de homens em roupas de mulheres”. O exemplo é a peça ícone de sua marca: o tauiller de duas ou três peças. Apesar de ter desenhado o modelo por volta de 1915, somente em 1954, quinze anos depois de ter se aposentado, que Chanel – na época, com 71 anos – recriou a roupa incorporando os botões dourados, contornos na lapela e punhos do paletó. Além disso, ela viveu a era das melindrosas, elaborando modelos de cintura reta e saia curta, sem falar nos vestidos de gala, um deles, usado por ela mesa 1936: longo e rente ao corpo, todo bordado em metal e paetês coloridos, acompanhado de um cinto dourado. Pragmática, ela dizia que “moda não é arte. É uma profissão”. Ela ainda desenhou bolsas pretas com alças douradas, sapatos, e jóias, como grandes cruzes e os imensos colares de pérolas.
Coco nasceu na cidade de Saumur, perdeu a mãe aos 12 anos e logo depois foi abandonada pelo pai. Por cinco anos, foi criadas por duas tias, que lhe ensinaram a costurar, até ser enviada a um orfanato de freiras. Nunca se casou, tampouco foi mãe; trauma que carregou ao ver o abuso e adultério do pai. Teve casos e mais caos com homens endinheirados, duques e aristocratas. Sempre foi amante, nunca titular. Essas homens a ingressaram no beau monde. Ela abriu lojas em cidades como Biarritz e Paris.
Quando perguntavam-lhe sobre seu passado, ela simplesmente inventava – e se contradizia. Coco viveu em uma Europa tomada por grandes conflitos. Apaixonou-se por um oficial nazista, o que lhe obrigou a exilar-se na Suíça – na época, sua marca perdeu força, até ela reaparecer em 1954. O nome do perfume Chanel 5, criado em 1921, acompanhou o moda da época – tudo levada números, inspirados em aviões, como o Voisin III e Blériot XI. Cinco era o número de sorte de Coco. A embalagem foi inspirada em vidros farmacêuticos, e a essência “um perfume de mulher com o cheiro de uma mulher”. Para Coco, estilo transcendia o vestuário. E tão imortal quanto a estilista, é uma de suas dicas: “Se você está com dor-de-cotovelo, passe um batom e vá em frente: homens detestam aquelas que choram”. Mas não esqueça daquela gota de Chanel 5 para dormir. E nada mais.
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[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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