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Sergio Rodrigues na Espasso
01.dezembro.2009
Tania Menai, de Nova York
Quando se entra na ampla galeria de móveis da ESPASSO, em TriBeCa, entra-se também no Brasil. O Brasil dos grandes designers, artesãos e arquitetos. O Brasil da timbaúba, da muirapiranga, da guariúba. E do frejó, do embú e do jacarandá. “Contamos a história do país por meio de seus móveis – temos peças desenhadas desde a década de 30, todas feitas por madeiras sustentáveis”, diz o paulistano Carlos Junqueira, que criou a Espasso em 2002. Entre seus 13 artistas, está o carioca Sérgio Rodrigues, que em setembro passado esteve presente para a grande festa que celebrou o lançamento de sua nova coleção de móveis e luminárias. “Há cerca de cinco anos, visitamos o showroom da Espasso, que na época tinha uma belíssima instalação no Queens; desde então quis fazer algum acordo com o Carlos”, diz Sérgio Rodrigues, 82 anos, vestindo meia amarela ouro e suspensórios vermelhos, sentado no aconchegante sofá Moleca, criado por ele em 1963.
Com veia de empreendedor, Junqueira deu vida `a Espasso em apenas cinco meses, sem sequer escrever um business plan. Sua experiência em importação foi trazida de seus anos de trabalho no setor de café. E sobre móveis, madeira e estilo, ele aprendeu fazendo; e tira de letra ao lidar com os arquitetos mais exigentes dos Estados Unidos. “Hoje, não é fácil se construir uma marca de luxo”, diz Junqueira. “Não podemos nos basear apenas no que estamos tentando vender. A marca tem que ser uma experiência memorável para o consumidor”, acredita. “No caso da Espasso, penso em tudo: na galeria, na seleção dos moveis, na música e até no cheiro do ambiente. Não estamos vendendo produtos, mas sim um estilo de vida que reflete os desejos de um consumidor que busca algo diferente, bem feito, e que transborde o que se vê no cotidiano”, ensina ele, que mantém seus dois andares com paredes brancas e visual clean. Nossos móveis refletem característica básica da nossa cultura:o sensual, o simples e total despretensão”, diz o empresário.
A parceria entre Carlos e Sérgio Rodrigues começou com a cadeira Chifruda, que Rodrigues desenhou em 1962 e fabricou na época como filha única. “Esta cadeira foi apenas uma brincadeira, uma caricatura, criada para uma exposição; quis demonstrar a capacidade que tínhamos em tratar o couro e fazer acabamentos especiais,” explica Rodrigues. Mas a cadeira-arte acabou adquirida por uma família que, quarenta e sete anos mais tarde, vendeu para um antiquário. A Chifruda, desta vez, foi arrematada por americanos, que buscaram Rodrigues para restaurá-la. Ela acabou em Los Angeles. E daí surgiu a idéia de replicá-la em 40 unidades, vendida nos EUA exclusivamente pela Espasso, por 20 mil dólares. “Em vez de reedição, digo que é uma continuação do que ficou parado”, diz Rodrigues. Além da Chifruda e do sofá Moleca, a coleção de Sérgio Rodrigues na Epasso inclui as poltronas Mole, a Poltrona Tonico para Oca, Kilim, e a cadeira Lúcio Costa. Também estão `a venda quatro luminárias, a Sérgio Augusto e a J. Hirth, feitas em peroba do campo, e Tcheko e Xibô feitas em madeira Gonçalo Alves. Os preços variam de 1.790 a 4.660 dólares. “Na década de 60, criamos cerca de dez luminárias para casar com o estilo dos móveis, e que tivessem a minha letra”, diz ele. “Todas as minhas peças tem um nome que carrega uma ligação afetiva seja com um cliente, um parente ou um amigo. “A luminária Xibô é uma delas. Xibô, ou China Bobo, é o apelido que a minha esposa, Vera Beatriz, me chama – começamos a namorar quando ela tinha 13 anos e eu 16 anos”, conta Rodrigues, carinhosamente.“Namoro naquela época era mais discreto do que hoje”, alerta. “Um ano depois, nos separamos, nos reencontramos 29 anos mais tarde, e estamos casados há 37 anos”, recorda sorrindo.
Rodrigues concorda que no mercado americano, a Espasso é um diferencial. “Não há dúvidas de que as madeiras tropicais, incluindo as brasileiras, são muito consideradas, principalmente entre colecionadores, leiloeiros e pessoas ligadas `as artes”, ensina Rodrigues. “Considero-me, de uma maneira jocosa, um assassino do jacarandá - usei muito esta madeira, que já não existe mais; temos de esperar 60 anos para que cresçam as novas árvores e cheguem ao ponto de produção”, lamenta. “Fui um ‘monstro’ ao colaborar por sua extinção, mas fiz o fiz sem saber. Há 40 anos, o jacarandá era tido como se fosse vendido em quitanda, tal era sua abundância”, lembra Rodrigues. Ele conta que uma característica que torna seu trabalho especial é a atemporalidade. “Os móveis vintage, produzidos até 1961, principalmente a Poltrona Mole, faziam parte de uma manifestação pós-moderna. Mesmo as peças desenhadas até a década de 80 foram pioneiras”, ensina. “Tive o privilégio de pertencer a um grupo que criava, mas não dependia de modismos e nem de tendências. E é isso que dá atemporalidade `as criações”, conclui.
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[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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