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A Arquitetura da Copa
02.maio.2010
Tania Menai, de Nova York
Em março deste ano, o economista Ian McKee que vive em Los Angeles, e o arquiteto Vicente de Castro Mello, de São Paulo, deram um pulinho na África do Sul. Brasileiros e amantes do futebol, talvez eles tivessem curtido mais o país durante a Copa. Porém, mais que isso, eles se preocupam com o que vem antes e depois: a construção e manutenção dos estádios. A dupla torce para que estes templos gigantes sejam projetados e reutilizados de forma sustentável, tendo o mínimo impacto ambiental. Em visita organizada pelo Portal 2014 especialmente para um seleto grupo de arquitetos, durante oito dias eles visitaram seis dos dez estádio – incluindo os ‘superstars’ Soccer City, Moses Mabhida, Cape Town e Nelson Mandela Bay - que sediarão esta Copa, para saber o que pode ser feito de igual ou de melhor em 2014 no Brasil. Ian, que trabalhou por muitos anos no banco Goldman Sachs, em Nova York, se credenciou pelo LEED - Leadership in Energy and Environmental Design (ou Liderança em Design de Energia e Meio-Ambiente), por meio do U.S. Green Building Council - Conselho de Construções Sustentáveis, nos Estados Unidos. Desta forma, ele tem o poder de certificar construções sustentáveis no mundo todo. Vicente é sócio-diretor da Castro Mello Arquitetura Esportiva . Juntos eles idealizaram e escreveram o Projeto Copa Verde, que inclui as EcoArenas e planos que envolvem todos os serviços a serem prestados aos brasileiros e visitantes durante a Copa.
"A sustentabilidade de uma instalação esportiva é o verdadeiro legado de eventos como uma Copa do Mundo ou Olimpíadas”, diz Ian. “Quanto mais um estádio for utilizado, maior será o retorno sobre o investimento. E isto inclui o design, a construção sustentável, as tecnologias de eficiência – que diminuem o custo de manutenção, o impacto ambiental e o risco futuro de custos maiores na parte de energia e água”, diz ele. “A utilização dos estádios africanos pós-Copa é a grande preocupação de hoje. Já o Brasil precisa de uma ‘Copa Verde’ e estádios que atendem a sustentabilidade econômica, social e ambiental, ou seja, um estádio que deve ser reaproveitado o máximo possível e não apenas em alguns jogos. Estamos correndo contra o tempo”, alerta. Ian diz que grandes obras mal planejadas podem gerar um impacto negativo no meio ambiente contribuindo com o aquecimento global “Queremos que o Brasil seja conhecido por respeitar o meio ambiente”, diz ele. “Nossa oportunidade é realizar a maior ação coordenada de green building, ou seja, de construções verdes já realizadas por um país. Teremos doze estádios, que abrigarão milhares de pessoas – pense no impacto que isso terá no meio ambiente. Para diminuir o impacto ambiental de um evento deste porte, basta seguir as regras. Inclui-se aí hotéis, hospitais, aeroportos e transportes. Queremos envolver todos os serviços no conceito da Copa Verde.”
Além de visitar os estádios africanos, Vicente Castro Mello também tirou um raio-x da condição dos estádios brasileiros. Em 2007, seis meses antes do anúncio oficial do Brasil como sede da Copa de 2014, ele analisou 30 estádio em 18 capitais. “Um dia após o anúncio que a Copa seria nossa, o projeto da Copa Verde foi entregue em mãos ao Ministro do Esporte”, conta Vicente, que em 2008 começou a desenvolver com sua equipe projetos preliminares para algumas cidades brasileiras que pretendiam sediar a Copa. No mesmo ano, ele visitou instalações esportivas nos EUA, participou de seminários sobre negócios verdes e fez questão de ver de perto lugares onde se produz energia limpa, na Califórnia. “Também estive na França, Alemanha e Inglaterra, também para ver de perto o que foi feito nos melhores estádios que sediaram Copas”, conta Vicente.
“Ainda se nota muito racismo na África do Sul, mas gostei de saber que eles consideram estes novos estádios um presente para a comunidade negra, já que o futebol é muito mais popular entre os negros do que entre os brancos, que preferem rugby e cricket, os dois principais esportes do país”, nota Ian. Ele acrescenta que outro ponto positivo foi a contratação dos empresários e trabalhadores locais, sem falar no treinamento do pessoal envolvido nas construções dos estádios: eles receberam aulas de saúde (como HIV/AIDS), segurança e treinamento técnico – ensinamentos que tem mais longevidade que a Copa. A qualidade do concreto, o maior componente deste tipo de obra, foi outro gol de placa dos sul africanos. “Em certos casos atingindo um teor de 50% de material reciclado”, diz Ian. “O Brasil tem chance fazer igual ou melhor, caso as construtoras assumirem este compromisso”, nota ele.
No entanto, o lado “verde” deixou a desejar em alguns outros pontos. Os projetos de meio ambiente não foram coordenados entre si; a preocupação maior foi dos diferentes arquitetos, então há uma disparidade entre os diversos estádios. O transporte local também tirou nota baixa, o que causará um impacto negativo na parte econômica, além da ambiental. “A necessidade de transporte individual para acesso aos eventos sul africanos, excluirá parte da sociedade, prejudicando o potencial financeiro dos estádios. O Brasil precisa garantir transporte público rápido, limpo e eficiente para todas as instalações esportivas. Isso é fundamental”, avalia Ian. Os que podem servir de bons exemplo, são os mais novos, que dispõe de sistema de automatização, para reduzir consumo de energia, e o uso de vegetação nativa em volta do estádio, assim não há necessidade de irrigação. “Estes dois recursos são considerados chaves, tanto do ponto de vista financeiro quanto ambiental, por serem utilizados 24 horas por dia, sete dias por semana. Lembre-se que um jogo leva apenas algumas horas por semana”, aponta Ian. “Estas duas práticas básicas deveriam ser os requisitos mínimos para a Copa brasileira – e a partir daí ver o quão longe o Brasil pode chegar em termos de redução de consumo de água, energia e desperdícios.” Se o futebol é o esporte número três da África do Sul, o Brasil tem poucas desculpas para não superar a performance de anfitrião verde em 2014.
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[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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