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O dinheiro de Marilyn Monroe
01.novembro.2010
Tania Menai, de Nova York
Quando Marilyn Monroe arrancou sua própria vida, aos 36 anos, naquele cinco de agosto de 1962, misturando calmantes com champagne, a taxa de suicídios nos Estados Unidos disparou em 12% por um breve período. O fascínio das massas pela loira mais cobiçada de Hollywood já tentou ser explicado numa exposição de 600 objetos no Museu de Arte Moderna, o MoMA, de Nova York, que mostrava como a fotografia criou o culto `as celebridades – entre elas, Marilyn. O curioso, no entanto, é que sua história não foi enterrada ali.
Quase cinqüenta anos mais tarde, a imagem de Norma Jeane Mortenson, seu nome original, gera 8 milhões de dólares por ano, ocupando a sétima posição na lista de treze finados que geram renda, segundo a revista Forbes, publicada em 2005. Num recente leilão da Christie’s, em Nova York, que reuniu fotos de um dos maiores colecionadores de imagens da musa, arrematou-se parte delas por 800 mil dólares. Pela mais cara, o comprador pagou 300 mil dólares, obra que artista pop Andy Warhol fez depois da morte da atriz. Há também a seleta coleção de vinhos, “Marilyn Merlot” e “Sauvigon Blonde”, produzidas por uma das melhores vinícolas em Napa Valley, Califórnia, e pela qual fanáticos desembolsam até sete mil dólares por garrafa. Paralelamente, imagens de Marilyn são reproduzidas em produtos e parafernálias incluindo bolsas, bonecas, sapatos e perfumes. Mas, quem tem direito de licenciar estas imagens e abocanhar as respectivas cifras? É aí que a começa a briga.
Nascida em primeiro de junho de 1926, de mãe mentalmente desequilibrada e pai desconhecido (sua mãe, Gladys Baker, mudou o sobrenome da filha posteriormente para Baker), Marilyn cresceu parcialmente num orfanato, casou-se três vezes, mas nunca teve filhos. Em seu testamento, ela deixou um quarto de seus pertences `a Marianne Kris, sua psicoterapeuta, e o restante para Lee Strasberg, seu professor de teatro e mentor, dono do Actors Studio, em Nova York, até hoje a mais respeitada escola artística. Quando Marianne Kris faleceu, em 1980, a herança de Marilyn foi destinada ao centro psiquiátrico infantil fundado por Anna Freud, em Londres, filha mais nova do famoso psicólogo e que hoje leva seu nome: Anna Freud Center. Lee Strasberg faleceu em 1982 e deixou sua porção para a esposa, Anna Mizrahi Strasberg. Em 1985, ambas partes contrataram um agente de Berverly Hills especializado em licenciar imagens de mortos famosos, como o próprio Sigmund Freud e Albert Enstein. Concordou-se, então, em dividir a renda numa porção de três para um.
Mas a relação começou a desandar quando, em 1989, o centro psiquiátrico alegou que Anna Strasberg passou a arrecadar mais do que deveria, deixando de repassar para Londres valores de acordos de licenciamento com estúdios de cinema, coleção de pratos de cerâmica e fabricação de bonecas. Em 1999, por exemplo, Anna Strasberg leiloou pertences de Marilyn por quase 14 milhões de dólares e continua licenciando a imagem da loira. Grande parte da renda vai para o Lee Strasberg Theatre & Film, na rua 15, em Manhattan. Mas até mesmo o direito de licenciamento é questionado. Nos Estados Unidos, cada estado obedece uma lei. E em 2008, uma juíza da Corte Federal de Los Angeles bateu o martelo dizendo que Marilyn era nova-iorquina no dia em que morreu. Em Nova York, ao contrario da Califórnia, é proibido licenciar imagem de pessoas mortas. Este direito morre com o cidadão.
Ainda assim, Anna Strasberg gerencia a empresa Marilyn Monroe LLC via o escritório de direitos de licenciamento CMG Worldwide, sediado em Indiana (estado que permite um cidadão licenciar imagens de celebridades mortas). Ao entrar no site do Marilyn Monroe LLC, aprende-se todas as regras e caminhos para estampar a atriz no seu boné ou na sua camiseta; o público então é direcionado para o site do CMG Worlwide.
Quem também briga com ela é o fotógrafo e amigo da atriz Sam Shaw, autor de centenas de fotos de Marilyn, incluindo as que ela está sobre as grandes do metrô nova-iorquino com as saias esvoaçantes no filme “The Seven Year Itch”. Em 2002, os herdeiros de Shaw, que fotografou diversas celebridades de seu tempo, criou a Shaw Family Archives, no estado de Nova Jersey. Representados pela agência Bradford Licensing Associates, de Nova York, hoje, eles brigam com a CMG Worldwide. Na briga também está a Valhalla Productions, em New Hampshire, produtora de filme documentário sobre o primeiro marido de Marilyn, o mercador marítimo James Dougherty, que utiliza fotos dos arquivos de Shaw. Juntos, eles alegam que a Marilyn Monroe LLC não tem direto de cobrar licenciamento pelas fotos de Shaw, que detém os direitos autorais das fotos (mas que licenciou algumas para a empresa de Anna Strasberg). Em contrapartida, o CMG processou a Shaw Family Archives pela violação de uma lei de reprodução de imagem ao estampar a imagem da musa em camisetas da rede de lojas de departamento Target.
O nó não tem fim, assim como o fascínio dos fãs que por duas décadas viam flores frescas sobre o túmulo da atriz. Os arranjos de flores frescas que figuram sobre o túmulo da musa. Foram pagos em adiantamento pelo segundo marido de Marilyn, o jogador de beisebol Joe DiMaggio.
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[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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