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Nildo Siqueira
06.fevereiro.2006

Tania Menai, de Las Vegas

Quatro artistas brasileiros dos shows KÀ e Zumanity receberam Viagem e Turismo nos bastidores dos shows para entrevistas exclusivas.

Nildo tinha 8 anos quando ingressou no mundo do circo. Hoje, aos 25 anos, e o mais velho de quatro filhos, ele lembra que sempre gostou de ginástica olímpica e acrobacia. Mas não tinha condições de pagar aulas para pagar um clube. Sua porta de entrada foi o Projeto Enturmando, feito em pareceira com a Secretaria do Menor, na Zona Sul de São Paulo. Lá, ele fazia cama elástica e acrobacia de solo. Aos 15 anos, ele teve de abandonar a escola para trabalhar. Foi office boy durante um ano. “Me mandaram embora, então voltei para o circo.” Que sorte.

Aos 16 anos, ele foi selecionado com mais dois alunos, dentre 400 candidatos, para participar da Universidade do Circo, no Rio de Janeiro. Lá, ele conheceu sua paixão: o trapézio de vôos. “Sempre gostei dessas coisas loucas”, comenta. Depois disso, foi chamado pelo José Wilson, professor do Circo Escola Picadeiro, uma escola paga, para aprender ainda mais. “Foi quando a carreira começou”, recorda ele. Para treinar com José Wilson, Nildo pegava uma hora e meia de ônibus cada trajeto e usava o salário que guardou durante a época de office boy. Até que o dinheiro acabou. “Então ele me fez aprender perna-de-pau e monocíclo – com isso, eu poderia ganhar dinheiro em eventos”.

Começou a trabalhar mais, a se profissionalizar, a dar aula de acrobacia de solo e tournou-se professor. No ano 2000, Nildo soube de uma audição do Cirque du Soleil. Teve 3 meses para treinar. Na audição, os artistas têm de se apresentar perante uma câmera e fazer números inesperados, como imitar artistas de kung-fu ou inventar números. “Numa dessas, vi um cara engolir a própria mão”, conta ele. Nildo recebeu uma carta dizendo que, sim, ele era um artista em potencial. Mas esperou dois anos. Novamente, participou de outra audição, no Rio de Janeiro, desta vez, apresentando acrobacias. “Tive de apresentar número de dança e de teatro – pediram para eu interpretar um rei e até um travesti. Soltar a franga mesmo”, diz ele, um heterosexual convicto.

Passou novamente, recebeu a tal carta e esperou. O convite chegou para o show KÀ. Nildo passou seis meses em Montréal e cinco em Las Vegas treinando e aprendendo novas técnicas circenses. “A disciplina aqui é muito importante. Quem chega cinco minutos atrasado, tem o nome anotado numa lista”, diz ele, que troca de roupa três vezes durante o show. A aula que Nildo mais apreciou durante os ensaios foi de wushu, uma técnica chinesa de arte macial que um cabo com um tridente pontudo, que Nildo mostrou exclusivamente para a revista na sala de ginástica dos bastidores de KÀ.

Ele diz que a capoeira é algo que chama cada vez mais atenção dos coreógrafos do Cirque du Soleil. Tanto, que um dos personagens principais é de Kléber Conrado Berto, que abre o KÀ numa cena solo dançando wushu com capoeira. “O pessoal diz que no camarim dos brasileiros é onde rola mais bagunça – mas também somos conhecidos por trazer alegria pras equipes”, conta Nildo. “Os brasileiros são muito talentosos, mas o Brasil ainda não sabe valorizar estes artistas”.

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