Umberto Eco cria site sobre diversidade cultural
29.dezembro.2000
Por Tania Menai, de Nova York
A Internet só existe há cinco anos. Ninguém é capaz de profetizar sobre o que fazer com esta arma. Talvez dentro de alguns anos, descobriremos que, por meio de uma nova invenção, a Internet estará completamente obsoleta e algo de novo terá acontecido. Esta é a visão do acadêmico e romancista italiano Umberto Eco.
Prestes a completar 69 anos, o papa da ciência da comunicação, da semiótica e autor do bestseller "O Nome da Rosa" (1980) dá um banho em qualquer pessoa de sua geração em conhecimentos sobre a Internet. Eco vem acompanhando de perto o fenômeno da rede, organiza conferências e grupos universitários que analisam a sociedade na era da informação e está envolvido no projeto Accepting Diversity, um site que estimula crianças a debater e aceitar diversidades culturais, religiosas e raciais.
Accepting Diversity nasceu de uma proposta de um site sobre educação e diversidade à Academie Universelle des Cultures, uma academia criada em Paris há 8 anos, presidida por Elie Wiesel, Prêmio Nobel da Paz, e que conta com 15 nomes expoentes do mundo todo. Ela é voltada para os grandes assuntos éticos e morais do nosso tempo, como discriminação, tolerância, imigração, memória histórica, intervenção militar - assuntos que tratam do destino do mundo no terceiro milênio, sob a perspectiva do encontro, cada vez mais intenso, entre diferentes grupos étnicos e da mestiçagem. Eco ressalta que, nas próximas décadas, a Europa se tornará um continente "colorido", e deve encarar essas novas perspectivas.
A princípio, a Academie pensou na educação sobre racismo, mas "racismo" é um termo muito forte para crianças. Seria necessário começar a partir da experiência comum que as crianças têm sobre diversidade, como cor, religião etc., partindo do ponto-de-vista de que as pessoas são diferentes e podem aceitar esta diferença. A segunda proposta é não mentir para as crianças, dizendo que todos somos iguais. "Isso não é verdade. Somos diferentes! E diferença é uma coisa positiva", diz Eco. Elas têm de reconhecer as diferenças, saber apreciá-las. E crianças têm mais facilidade de reconhecer estas diferenças do que os adultos, lembra ele.
A idéia inicial foi um livro infantil a ser publicado por editoras do mundo inteiro, em diversas línguas. Mas não há como se comunicar da mesma forma com um jovem americano e um jovem da Polinésia. Como falar sobre o Holocausto com uma criança da Nova Guiné, que nunca ouviu falar na Europa? Para ela seria mais interessante falar de conflitos raciais em seu país.
Seria também difícil estabelecer uma linguagem visual. Em algumas civilizações, as crianças entendem Mickey Mouse, em outras não. "A idéia surgiu quando a Internet ainda não existia, mas estávamos convencidos de que um projeto deste online teria vantagens: poderíamos atualizar as informações e promover interação", conta Eco. Há um ano, eles começaram o primeiro capítulo, sobre a noção de diversidade, no qual listamos problemas e possíveis experimentos a serem desenvolvidos por crianças. "Estamos esperando experiências chegarem de fora. Ainda não recebemos muitas experiências interessantes, mas devemos dar tempo para que as pessoas descubram o site", diz. Enquanto isso, eles preparam outros capítulos, como o da religião, por exemplo. Não é uma tarefa fácil, pois o site deve ser aceito por diferentes instituições e o texto deve ser controlado pelos membros da academia. "É um processo lento, mas estamos seguindo em frente", diz o professor.
[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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