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Índia brasileira recebe Prêmio Reebok
08.abril.2004

Por Tania Menai, de Nova York

A vida da índia brasileira Joênia Batista de Carvalho, 30 anos, é uma luta. Seus deveres vão muito além do que se esperaria de uma mulher da tribo Wapixana, em Rorâima, onde ela nasceu. Joênia, cuja língua materna é o aruák, é a primeira advogada indígena do sexo feminino do país. Hoje, dia Internacional da Mulher, sua luta foi reconhecida por ativistas de direitos humanos internacionais - Joênia foi condercorada com o Prêmio Reebok 2004, que premia anualmente os grandes ativistas de Direitos Humanos no mundo. O prêmio foi anunciado na sede da Nações Unidas, em Nova York.

Há anos, Joênia luta pelos direitos do seu povo às terras herdadas. Ainda batalha contra a exploração externa da agricultura e pesca para fins comerciais. Também defende vítimas do desrespeito aos direitos humanos, além de dedicar-se à educação de seu povo e à defesa de seus direitos. Ela mesma foi obrigada a enfrentar obstáculos em uma região onde o povo indígena não tem acesso à educação básica e submete-se à discriminação ao tentar obtê-la.

Mais da metade dos integrantes da população indígena brasileira vive em situações precárias e depende do que a terra para a sua subsistência. No entanto, continuam a sofrer a exploração externa de seus recursos lenheiros, agrícolas e minerais. Em decorrência disto, a maior reserva indígena brasileira, Raposa Serra do Sol, situada na região de Roraima, mobilizou-se em defesa de suas terras ao conseguir demarcá-las - o governo ainda não autorizou esta divisão. A região continua vulnerável à invasão externa que visa à exploração de seus recursos para fins agrícolas e comerciais.

Como única advogada integrante do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Joênia tornou-se a líder do movimento em prol da demarcação, tomando a frente desta batalha de diversas maneiras. Ainda assim, a luta não foi vencida - esta é a principal causa de tensões políticas na região, resultando em violações dos direitos dos povos indígenas, tais como assassinatos, ameaças, perseguições e torturas nas mãos de policiais. Além de deste drama, Joênia também toma a frente na luta em defesa das vítimas de violações aos direitos humanos, dedicando-se à educação de seu povo e à defesa de seus direitos, além de representá-los e defender os seus interesses perante a imprensa, organizar campanhas e tentar servir de ponte entre as comunidades indígenas e as autoridades governamentais.

"Em defesa dos direitos dos que se encontram em situações vulneráveis, estes verdadeiros heróis demonstram coragem, habilidade e resistência surpreendentes, inspirando-nos a jamais esquecer a parte que nos cabe desta missão, não somente em nossas próprias comunidades como em todo o mundo", afirma Paul Fireman, presidente e CEO da Reebok International Ltda. Os ganhadores do prêmio também adquirem a oportunidade de participar da Forefront, ONG independente fundada pelos próprios vencedores do Prêmio Reebok em Defesa dos Direitos Humanos, que tem por objetivo facilitar a assistência mútua em situações de crise, propiciar a comunicação entre os seus integrantes e a comunidade global e proporcionar uma troca de habilidades, recursos e estratégias.

Além de Joênia, duas mulheres e um homem receberam o prêmio este ano: Yinka Jegede-Ekpe, 25 anos, uma nigeriana portadora do vírus HIV que educa e defende os diretos das mulheres que têm a doença; Vanita Gupta , de 29 anos, advogada que liderou com sucesso, em Nova York, uma campanha contra o racismo no sistema judicial, conseguindo a libertação e absolvição de 35 americanos inocentes de descendência africana; e o afegão Nader Nadery, de 28 anos, defensor dos direitos humanos, que foi preso e agredido ao longo de três regimes políticos repressores. Hoje ele se dedica a formar uma cultura voltada à defesa dos direitos humanos em seu país.

Estabelecido em 1988, o Prêmio Reebok 2004 - Em Defesa dos Direitos Humanos, oferece recompensas a indivíduos com menos de 30 anos que tenham contribuído, de maneira significativa e não violenta, para com a missão em favor dos direitos humanos, muitas vezes sujeitando-se a situações de grande risco. Desde 1988, foram selecionados 76 ganhadores entre 35 países, numa tentativa de expor a dedicação destes verdadeiros defensores dos direitos humanos à comunidade global e educá-la sobre os desafios que enfrentam. A recompensa de $50.000 oferecida pela Fundação Reebok em Defesa dos Direitos Humanos, tem como objetivo prestar assistência direta para que jovens ativistas possam continuar a exercer a sua missão.


[ copyright © 2004 by Tania Menai ]

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