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Sede de Viver
01.fevereiro.2007


Proposta da rede de cafeterias Starbucks e da Ethos: levar água potável aos lugares mais miseráveis do planeta.

Tania Menai, de Nova York

Neva lá fora. Estamos no Starbucks da rua 60, esquina com a Broadway. A loja está agitada – uns lêem o New York Times. Outros navegam na web. O som é de jazz. Na fila, muitos encaram a eterna dúvida entre um Tall Skim Chai Latte ou um Venti Mocha Frappucino. Mas outros optam pelo simples. Pela água. Pela Ethos Water, cujas garrafas, com logo azul e preto, ficam acessíveis numa cesta, perto do caixa. Por cada garrafa paga-se pouco mais de um dólar. Nem todos sabem, porém que, além de matar a sede, cinco centavos deste desta compra, serão destinados a uma causa nobre longe, bem longe daqui.

Fundada há quase cinco anos, a Ethos Water compromete-se a levantar um fundo de 10 milhões de dólares ao longo de cinco anos a ser distribuido para organizações que têm o compromisso de fornecer água potável em alguns dos lugares mais miseráveis deste planeta. Para se ter uma idéia, enquanto bebe-se uma garrafa de água em Manhattan, cerca de um bilhão de pessoas, o equivalente a quase 20% da população global, não têm acesso a água potável. A falta de acesso a água limpa mata cerca de 4.500 crianças por dia. Em 2004, por exemplo, 90% das 2,2 bilhões de mortes causadas por ingestão de água não potável eram crianças menores de cinco anos de idade. O problema ocorre no mundo todo e promete se alastrar drasticamente nos próximos vinte anos. A situação mais grave, no entanto, é na Africa Sub-Saariana e no sul asiático. Como chegamos a este ponto? Uma série de problemas entrelaçado a outros, como clima, geografia, falta de infraestrutura sanitária ou simples inexistência de sistema de água – 40% da população do mundo não tem nada disso. Em alguns paises a situação ainda é pior: a água que se bebe leva arsênico e outras substâncias malígnas. Ainda assim há paises africanos onde mulheres e meninas caminham dez quilômetros para buscar este tipo de água, em áreas rurais.

Dar acesso à água potável para quem não têm é um dos “Gols de Desenvolvimento do Milênio” estabelecido pelas Nações Unidas, com data de vencimento em 2015. Mas isso não se faz sozinho, não há milagres e esperar algo de governos pode aumentar ainda mais a tragédia. A idéia da Ethos – conscientizar quem têm o privilégio de comprar uma garrafa e envolvê-lo na realidade alheia -, começou com o americano Peter Thum. Em 2001, ele trabalhou por seis meses como consultor da McKinsey, gigante de consultoria, na África do Sul. Lá, ele viu que a falta de água potável diminuia a chance de vida de milhares de crianças. Aos poucos, ele especializou no setor e junto com um amigo Jonathan Greenblatt, fundaram a Ethos em 2002, na Califórnia. A empresas começou literalmente no quarto do filho de Jonatthan – durante um ano e meio o escritório era lá. A dupla fazia entrega num caminhão emprestado por um amigo. Um ano depois, a Ethos passou a ser vendida em cafés e lojas de Los Angeles – e no Dia da Terra, fez o grande debut no Whole Foods da costa oeste, uma das maiores (e melhores) redes de supermercado do país. Até que um dia, eles conheceram Howard Schultz, presidente do Starbucks, empresa que sempre busca parcerias ligadas à responsabilidade social.
Schultz viu ali um casamento perfeito. Tão perfeito, que comprou a empresa toda, em 2005, por 8 milhões de dólares. incluindo Peter e Johnattan.

“Esta é uma forma de as pessoas se conectarem à solução”, acredita Peter. No primeiro ano, as garrafas passaram a ser vendidas em cinco mil lojas da rede de café nos Estados Unidos, e distribuiram 250 mil dólares para ONGs que lidam com projetos sustentáveis de água em Bangladesh, República Democrática do Congo, Indonésia, Índia, Honduras, Quênia, Etiópia e populações afetadas pelo tsunami, incluindo o Sri Lanka. Na Etiópia, por exemplo, apenas 6% da população tem acesso a água potável. Em Bangladesh, 70% da população vive abaixo da linha de pobreza e 18% apenas tem latrina em casa. Ainda assim, isso não é sinônimo de infraestrutura sanitária. Enquanto isso, nos Estados Unidos, em junho de 2006, a história melhorou: a Ethos entrou no esquema de distribuição que a Starbucks mantém com a Pepsico para aumentar a venda das garrafas de água para 100 mil pontos-de-venda nos Estados Unidos e no Canadá. No site da Ethos, Peter e Jonatthan ainda convidam ativistas locais para contarem suas histórias e seus projetos, dando voz a quem mora em cidades minúsculas e tornando números e porcentagens em histórias humanas. Histórias que podem ser mudadas, sim, de cinco em cinco centavos. Gole por gole.

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[ copyright © 2004 by Tania Menai ]

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