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A dulpa vidas das Veroniques
08.agosto.2007


Tania Menai – Nova York


A festa era de gala, aqui em Nova York - e eu, para variar, atrasada. Coloquei o vestido, a maquiagem, o perfume, separei a bolsa, peguei a chave e...cadê o sapato? Sim, o único sapato preto de salto que tenho. Deixo a bolsa e a chave de lado. Reviro o armário. Quinze minutos se passam. Eureka. Ligo para minha mãe, no Brasil. “O sapato tá aí?” Mais dez minutos de procura. “Sim.” Adeus festa. Passava das nove, lojas fechadas e, francamente, achar um sapato de salto confortável em dois minutos é missão impossível. Deixei a festa pra lá.

Esse é um exemplo de quem leva uma dupla vida de Veronique, que nem aquele filme europeu de 1991. Você vive cá e lá. Não só você tem que dominar assuntos que vão de genodício em Darfur (em Nova York) à invasão da Rocinha (no Rio), como seus pertences se espalham pelas Américas. E mais: mesmo morando em Nova York, a galera que com quem ando matém médico, dentista e todos os “istas” no Brasil. Por melhor tecnologia que a medicina americana ofereça, ela peca por falta de simpatia, humanismo e sorrisos. Preferimos aquele médico que conheceu a nossa avó e sabe que tivemos catapora aos 14 anos. Sem falar num outro “ista”: o analista. Sim, fazer análise em português, xingar em português, chorar em português é bem melhor. Sorte de quem tem o luxo de fazer isso durante férias na terra natal.

Há também o quesito unha e depilação, no qual o Brasil ocupa a pole-position. Em Nova York, para ter o mesmo serviço, temos que pagar os olhos da cara. A solução é aprender a fazer tudo em si mesma, buscar brasileiras que atendem em suas casas, ou então apelar para as coreanas, que não páram de falar entre si e interrompem o serviço para cobrar, com um singelo “pay now!”. Minhas amigas, quando chegam no Brasil, deixam as malas em casa e partem pro salão. É fato.

Claro que nem tudo são flores e praias – em visitas ao Brasil, também rola aquela peregrinação digna de países burocraticamente arcaicos. Para renovar seu passaporte, você tem que estar com o título de eleitor e o CPF em dia, além de encontrar a cateira identidade em alguma gaveta. E dá-lhe caça ao tesouro para regularizar, carimbar, pagar, entrar em fila, voltar, esperar, pegar senha, xerocar, carimbar mais uma vez. Enfim, toda a máfia do funcionalismo público e cartórios do Brasil, coisa inexistente nos EUA. Nessas horas dá saudade das coreanas.


[ copyright © 2004 by Tania Menai ]

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