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Trabalho Caseiro
10.novembro.2007

De chinelinho rosa e bermuda de cetim, trabalhar em casa não exige trajes de escritório, tampouco transporte público. Mas haja disciplina para resistir ao sol brilhando lá fora.

Tania Menai

Levo exatos três segundos para chegar ao trabalho – basta levantar da cama e me alojar na frente do computador. Trabalhar em casa é isso aí. Minhas manhãs são despidas de despertador, ferro de passar roupa, batom, carro, metrô, ônibus ou similares. Essa economia de tempo talvez seja o melhor atrativo do que se chama home office – o dia rende.

Talvez a paz de trabalhar em casa tenha colaborado para minha qualidade de vida – o metrô matutino daqui também não é nenhum glamour.Sei disso porque já trabalhei a treze estações de metrô de casa, mais precisamente na estação do finado World Trade Center. Sem contar a neve e o vento do lado de fora – enquanto isso, no aconchego do sacro-santo-lar o modelito é a camisola. Não conte para ninguém, mas já entrevistei muita gente assim, ao telefone.

Em dias mais chiques, desfilo de short e camiseta. Não é a toa que um jornalista americano que trabalha nos mesmos moldes nos intitulou de underwear writers. Em vez de roupas de trabalho, meu gasto principal é com velas aromáticas e CDs: de guitarra andaluz a sons de índios canadenses. Claro que saio para almoçar com os amigos – eles de terno e eu de chinelo de lacinho. Um luxo.

As desvantagens? Uma é a falta de gente em volta. A outra: ninguém acha que você trabalha. O telefone toca o dia todo com convites tentadores: “vem tomar um solzinho no Central Park!”, ou “Te encontro daqui a meia-hora na porta do Metropolitan Museum” ou “Desce aí no Starbucks, é só um cafezinho!”. Imagine se um advogado ou médico recebem chamadas assim em plena terça às 3hs da tarde!

Confesso que muitas vezes eu vou – e viro noite para tirar o atraso. Afinal, do lado de fora da minha porta tem uma cidade chamada Nova York, a matéria-prima do meu trabalho. Mas muitas vezes digo não. O mesmo acontece com amigos correspondentes em Valência, Rio de Janeiro ou Paris. Talvez devêssemos lançar uma campanha estilo “não somos donas-de-casa, nem modelos da Victoria Secret´s – ainda assim, estamos na labuta. Colaborem!”


[ copyright © 2004 by Tania Menai ]

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