Uma pitada de luxúria
10.dezembro.2007
Uma baiana tentou ensinar o carinho brasileiro à americanos desajustados. Parece que não obteve muito sucesso, ainda falta aquela pegada em muitos deles
Tania Menai
Peguei para ler – meio atrasada, porque “todo mundo já leu” – o livro “A Casa dos Budas Ditosos”, do João Ubaldo Ribeiro; a luxúria da série Sete Pecados Capitais. O livro é narrado em primeira pessoa por uma mulher de quase setenta anos e, diga-se, “vivida”. Dentre tantos sórdidos relatos, um me chamou atenção. É quando ela se refere aos homens americanos: “a gente tinha que ensinar tudo, porque eles não sabiam nem beijar direito (...) e mais uma porção de coisas infantis”.Ela continua: “As baianas de minha geração devem ser responsáveis pela formação de centenas e centenas de americanos, fomos uma força progressiva na vida deles. Teve um, chamado Chuck, a quem ensinei tudo, e até hoje ele deve ser um desajustado na terra dele, em Muskogee, Oklahoma”.
Desajustado. Adorei o termo. Além da expressão “travados” não há palavra que descreva melhor os americanos quando o tema vem à tona. Sou contra generalizações, mas tenho que concordar com a protagonista e ainda acrescentar: aqueles americanos não passaram os ensinamentos das tais baianas paras as gerações seguintes. Ninguém precisa ser luxúria-maníaca como a tal mulher para saber que o problema dos homens americanos (desculpem-me as raras exceções) é nacional – não é só coisa de Muskogee (onde?) não.
Manhattan está cheinha de Chucks, homens focados no sucesso, no salário, na carreira e que esquecem de abrir a porta a uma mulher. Beijos e amassos só são vistos nas telas de cinema, coisas de Hollywood. Isso mesmo, é tudo ficção. Tente fazer o mesmo em praça pública para ver a reação alheia. Carinho ao ar livre tem sigla: P.D.A (public display of affection). Claro que no Brasil a coisa é exagerada para o outro lado. Mas outro dia, aqui nos Estados Unidos, uns amigos brasileiros foram chamados na escola do filho, de quatro anos, para ouvir da diretora que a criança estava “abraçando demais os coleguinhas”. Eles não sabem lidar com isso. Então, o que esperar de um homem que cresceu podado de afeto, toques e abraços? Sinto, mas se nem as baianas conseguiram ensinar o bê-a-bá aos americanos, não vejo luz de velas no fim do túnel.
[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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