Decidiu mudar para uma cidade bacana da rota turística mundial? Pode acreditar, seu lar doce lar pode virar albergue de pseudo-amigos,amigos e até inimigos.

Tania Menai

Quem mora fora vai me entender: quando você se muda para Nova York, Paris, Barcelona ou cidades igualmente interessantes, eis que surge um fenômeno: pseudo-amigos, ex-amigos, amigos-do-amigos, e até inimigos, começam a brotar do além. É igualizinho aquele antigo clip “Thriller”, do Michael Jackson, quando os mortos-vivos saem dos bueiros. Você abre o seu email, e lá está a abominável pergunta, sempre direta: “posso fica na sua casa?” E quem pergunta, jamais admite um “não” como resposta. Os que acabaram de se mudar acham aquilo bucólico, pensando que quem se convida está preocupado com você e com sua vida nova.

Mas depois da quinta experiência, fica claro: a sua casa virou hotel. E é tratada como tal. Assim como você, ao longo do tempo, não passa de um concièrge, um tradutor ou uma camareira de luxo. Não, ninguém está ali para te ver. Pareço radical? Então experimente mudar-se para qualquer cidade da rota turística do globo terrestre.

Em Nova York e Paris mora-se em apartamentos minúsculos, com um banheiro, sem área de serviço, sem empregada. Ainda assim, quem se convida, logo proclama: “não me incomodo em dormir no chão!”. Mas não pergunta se o anfitrião, que trabalha, se incomoda em ter um corpo na horizontal ocupando metade da casa (a outra metade é tomada por sacolas de compras e malas extras). Há hóspedes de todas as espécies: os que se instalam por semanas. Os que só pensam em lojas. Os que vivem se perdendo. Os que não colaboram com a conta do supermercado. E tem até os gente-boa.

E vale lembrar que o conforto Casa Grande-Senzala, coisa já abolida nos paises do norte há séculos. A deliciosa realidade brasileira de ter a comida pronta, a cama feita e a roupa limpa, cria gerações de gente que nunca varreu o chão da própria casa – e não será nas férias de Paris que isso vai acontecer. De tanto ouvir desabafos, preparo um livro sobre o assunto, colecionando histórias verídicas e anônimas de qualquer cidade. Envie a sua para o e-mail do meu site. Ser anfitrião e hóspede é uma arte até hoje reservada a poucos. Precisamos divulgá-la e salvar a humanidade.

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