Um chef para chamar de meu
02.abril.2008
Se com amor tudo fica mais gostoso, imagine arrumar um namorado chef de cozinha. E se você não é chegada a panelas, a dica é não se intimidar.
Tania Menai
Não sei por onde fisguei o Felipe, mas certamente não foi pelo estômago. Numa noite de janeiro, há mais de um ano, este belo moço aproximou-se de mim e perguntou: “você também é chef?” A questão fazia sentido: estávamos num cocktail de gastronomia; e ele é a versão humana do ratinho Ratatouille. E voilà minha resposta: “Só frito um ovo. Dois já fica complicado”. Não adiantava disfarçar – não tenho receita nem de arroz. O segredo é não se intimidar e aprender com ele.
Antes de me ensinar a cozinhar, porém, ele tem me ensinado a comer: exigente, diz que o melhor prato é sempre o autêntico, e para isso não precisa se pagar caro. Talvez o melhor restaurante seja aquele pequenininho e honesto do seu bairro. Até porque, muitos lugares considerados “chiques”, enganam. Certa vez, no Rio de Janeiro, pedi um cherne. Serviram um namorado, peixe mais barato. O Felipe notou no ato, acrescentando que estas malandragens são supercomuns.
Mas a primeira coisa que ele fez, antes mesmo de morarmos juntos, foi abrir os armários da minha cozinha. Ai, que vergonha. Trocou todos os utensílios, comprou tudinho novo – ganhei até uma faca rosa-bebê. Já nas reuniões sociais é ele o epicentro da atenção: fulano revela receitas infalíveis, beltrano indaga sobre azeites internacionais e cicrano pede aulas. Até numa consulta médica testemunhei o doutor puxando papo-cozinha com ele. Por sinal, mais do que cozinhar, aprendi a ser enfermeira. Faço plantão todas as madrugadas, quando Felipe – depois de doze horas de pé com a barriga no fogão – chega premiado com cortes, queimaduras e dor no músculo tal.
Mesa para dois
Verdade é que esta profissão é muito menos glamurosa do que se pensa. Principalmente nos restaurantes cobiçados de Nova York, meio onde ele trabalha. Se por um lado é raro jantarmos juntos, por outro ele me faz adivinhar as misturas de seus sucos no café da manhã. Certa vez, porém, apareci para jantar de surpresa em seu restaurante. Ao saber que eu estava lá, ele dispensou o garçom, deixou a cozinha e veio me servir. Gelei. Felipe nasceu para alimentar os outros, com capricho. Mas para alimentar a minha alma, não precisa de nenhum condimento mirabolante: basta ele sorrir.
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Blog do Felipe
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