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O Metrô de Nova York faz 100 anos
03.outubro.2004

Tania Menai, da estação Columbus Circle - 59th Street

Nova York tem dois andares. E o turista que nunca se aventurou no metrô, certamente perdeu metade dela. É ali que se vê a máquina que move a cidade, a mistura de nacionalidade, artistas folclóricos, o violnista, o flautista, o mendigo e a madame. Sim, o metrô é vezes sujo, outras barulhento. Mas é apaixonante – e assim é desde 27 de outubro de 1904, dia de sua inauguração.

Na época, mais da metade dos 3,4 milhões de habitantes da cidade de Nova York se aglomeravam no sul da ilha de Manhattan – a cidade era movida por trolleys e charretes, o que não lhes davam condições de chegar às regiões mais remotas. Trabalhar longe de casa nem pensar. Londres e Paris já tinham suas linhas de metrô, quando, em 1900 Nova York assinou o contrato a construtora particular, Interborough Transit Company (IRT, hoje MTA, ou Metropolitan Transportation Authorithy). Liderada por um judeu alemão August Belmont, o homem mais rico da cidade, a IRT empregou 7.700 trabalhadores, a maior parte imigrantes irlandeses e italianos. Salário: 2 dólares por dia. O método de construção tinha nome: “cortar e cobrir”. Além de esburacar mais de 32 kilômetros das ruas da cidade, colocar os trilhos, construir escadas, paredes e tetos, o projeto – que em tamanho só competia com o Canal do Panamá - ainda foi considerado audacioso por outro motivo – fazer tudo isso em apenas quatro anos e meio.

Ao contrário dos sistemas já existentes em Paris e Londres, o metrô nova-iorquino ainda ganhou linhas expressas – que rasgavam a cidade em poucos minutos, em vez do pinga-pinga das linhas que param em todas as estações. Tudo isso pela taxa única de cinco centavos por viagem (compare aos 2 dólares de hoje), independente da distância percorrida. O preço ficou estagnado até 1948, quando dobrou para 10 centavos – mesmo com os custos elevados de manutenção do sistema, os políticos não ousavam aumentar a passagem para não perder votos. Em 1953, introduziu-se o token, moeda furada no meio que valia como ticket para o metrô. Foi abolida no ano passado quando passou a valer somente o Metrocard, cartão magnético introduzido em 1997. O novo vai-vém pela cidade espalhou a população pelos cinco municípios de Nova York.

Voltando ao dia 27 de outubro de 1904, a primeira viagem foi conduzida pelo então prefeito George B. McClellan. Em meio ao evento de abertura, no qual homens aglomeravam-se de fraque para ver a novidade, McClellan se empolgou acelerando o trêm da estação do City Hall (abaixo da prefeitura da cidade) até a rua 145, no norte da ilha de Manhattan – corrida que durou os estimados 26 minutos. Só no primeiro dia, 150 mil curiosos percorreram a cidade nos novos vagões – os trens chegavam a cada 3 minutos numa velocidade de 72 km por hora. Em 1905, o metrô já transportava um bilhão de almas por ano. Graças aos trilhos, as populações do Bronx e do Queens, que, em 1900, eram de 201 mil e 153 mil respectivamente, incharam para um milhão cada em 1930.

Cenário de piadas, crimes, artistas amadores, filmes e literatura, Nova York seria, simplesmente, impossível sem seu metrô. Um exemplo, são as capas e charges, atemporais, da revista semanal New Yorker, fundada em 1925. Publicadas há décadas, eles ilustram um raro cidadão cedendo lugar a uma dama, um outro quase de ponta-cabeça para ler o jornal alheio e um casal de plumas e paetês voltando da ópera a espera do metrô. Já uma capa mais recente, mostra um turista dentro do vagão, tentando desvendar o mapa do metrô, enquanto um nova-iorquino ronca e outro lê o New York Post – retratando a típica indeferença local: ninguém repara que o tal turista, barbado e de uniforme militar, é Osama bin Laden.


[ copyright © 2004 by Tania Menai ]

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