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CHELSEA e as galerias de Nova York
02.maio.2005


Tania Menai


A ilha de Manhattan não tem mais para onde crescer. Resta-lhe, então, espichar-se para cima ou renovar suas regiões obsoletas. Exemplo disso, é a revitalização das quadras que beiram o Rio Hudson, em Chelsea. Ruas desertas, despidas de beleza, antes tomadas por galpões de depósitos ou oficinas de carros, tornaram-se endereço número um para quem busca arte contemporânea. Tetos altos, janelas imensas e paredes quilométricas abrigam hoje galerias que reúnem trabalhos dos mais cobiçados nomes do cenário mundial – e também os artistas mais comerciais, já que estamos falando de Nova York. Nos últimos dez anos, Chelsea ganhou mais de 230 galerias que vão da rua 13 a 29, no West Side. Um dia de visita é pouco para conhecer tudo isso, mas para quem ir direto ao assunto, basta passar a Décima Avenida, começar a imersão na rua 20 e sair flanando até a rua 26.

As galerias fecham aos domingos e às segundas – nos demais dias, abrem até às seis da tarde. Nem todas elas ficam expostas na calçada. Muitas escondem-se em prédios, que valem ser visitados; alguns expõem a lista das galerias logo na portaria. A invasão das artes nesta área deu-se por dois motivos: a busca por grandes espaços, o ativo mais valioso de Manhattan, e a fuga dos estratosféricos preços de aluguéis do SoHo, bairro tomado por imensos lofts, onde outrora artistas faziam seus estúdios e galerias ditavam o que era arte. Sem falar no charme de suas ruas cobertas por paralelepípedos, por onde passavam a juventude irreverente do pintor Jean-Michel Basquiat (1960-1988) e o ilustrador Wandy Warhol (1928-1987). Mas mesmo em sua época mais efervescente, no começo dos anos 90, o número de galerias do SoHo não chegava a metade do que Chelsea tem hoje. Em um fenômeno sem precedentes, Chelsea tem atraido tanto as galerias que nasceram em Williamsburg, no Brooklyn, o novo bairro da arte emergente, quanto as já consagradas internacionalmente. Então, deixemos o Soho de lado – hoje, ele pertence aos estilistas da alta costura.

Alguns críticos chegam a dizer que exposições de Chelsea já estão alcançado a importânicas de mostras em museus. Outros sugerem que elas competem entre si e que exageram ao querer receber tamanho status. Seja qual for a opinião, ninguém pode ignorar a revolução que elas estão fazendo no mercado das artes. A arquitetura dos espaços é quase homogênea – seguem uma linha clean, minimalista, com muito vidro, tijolo, cimento e claridade. A rua 22 é especial por abrigar duas pérolas - o Chelsea Art Museum, uma bela casa vermelha, na esquina da Décima Primeira Avenida, que abriga arte contemporânea, principalmente artistas europeus que pintam abstratos, na fase pós-Segunda Guerra - estilo apelidado por um crítico francês de L’ Art Informel. O museu abriga ainda a Fundação Miotte, que preserva os trabalhos de Jean Miotte, artista nascido em 1926, e considerado um dos mestres deste estilo. No prédio ao lado, pode-se visitar o Dia:Chelsea, outro grande templo da arte contemporênea e parte do Dia Art Foundation. Fechado para obras até 2006, o centro, cujas galerias ocupam um prédio inteiro, foi criado em 1974, e expõe obras de ícones como o alemão Gerhard Richter, que pinta o mundo embassado. [Durante a época de reformas, uma boa opção é visitar o Dia:Beacon, a uma hora de trem de Manhattan – os trens saem da Grand Central Station e tem pacotes de um dia.]

Ainda na mesma rua 22, fica a galeria Brent Sikkema, que representa os trabalhos do paulista Vik Muniz, cujas colagens e fotos expressam um talento ímpar. Não longe dali, ao lado da galeria Max Protetch, vale a pena esticar as pernas Wild Lily Tea Room, um pequeno restaurante asiático-zen, que alivia qualquer estresse turístico. Em frente, fica a Matthew Marks Gallery, que até o fim de junho apresenta trabalhos do americano Jasper Jones. Visite também a D’ Amelio Terras, galeria dedicada a grupos de artistas inovadores no mercado internacional e revendedora de arte de artistas renomados, da década de 60 até hoje. Caminhando até a Décima Primeira Avenida, entre as ruas 23 e 24, vale visitar o Art Building, um prédio renovado que também reúne galerias. Na rua 24, uma surpresa: a exposição solo do brasileiro Daniel Senise, na galeria Ramis Barquet, uma galeria dedicada a artistas latinos. Intitulada Lapa-Queens, seus imensos quadros abstratos, com tons de bege e azul, revestem todas as paredes. Oposta a esta galeria, está a imensa – e respeitada – Gagosian. Com filiais espalhadas pelo mundo, a Gagosian representa artistas como o pintor americano John Currin, que em 2003 chegou a ter uma exposição solo no Whitney Museum. Seu espaço em Chelsea é tão grande que equivale ao tamanho três galerias do bairro.

Uma das galerias escondidas em edifícios é a Mixed Greens, na rua 26, depois entre as avenidas 11 e 12. Além dos quadros de artistas vanguarda e do escritório que mesclada a galeria com computadores coloridos, a vista de Manhattan através dos imensos janelões já vale a visita. Ao lado do edifício, fica o restaurante Milieu, sofisticado, de cozinha americana. Outra opções de jantar por lá é o Red Cat, na Décima Avenida, entre as ruas 23 e 24, e a lendária Empire Diner, aberto 24 horas, na mesma avenida. A atmosfera artística se completa com uma hospedagem no centenário Hotel Chelsea, onde moraram grandes artistas na época em que os teatros da Broadway ocupavam o bairro. O lobby e escadarias de seus 12 andares, repletos de quadros, contam a história por si só. Construido em 1884, na rua 23, o Chelsea Hotel, ostentava o título de prédio mais alto de Manhattan até 1902. Três anos depois, virou hotel, sempre ocupado por artistas, escritores e pintores. Todos eles deixaram suas marcas – e continuam inspirando as novas safras.


Endereços -

Art Building – 210 Eleventh Avenue
Brent Sikkema – 530 W 22nd St. Tel. 212.929.2262
Chelsea Art Museum – 556 West 22nd Street Tel. 212.255.0719
Hotel Chelsea – 222 West 23rd tel - 212 243 3700
Dia:Chelsea – 535 West 22nd Street
Empire Diner - 210 Tenth Avenue. (com rua 22.) tel. (212) 243-2736
Gagosian – 555 W 24 th tel. (212) 741-1111
Mileu -610 W 26 th St. 212-255-8811
Mixed Greens - 601 West 26th St tel. (212) 331-8888
Ramis Barques - 532 WEST 24TH STREET - TEL.212.675.3421
Red Cat 227 10th Ave. (entre as ruas 23 e 24) - (212) 242-1122
Wild Lily Tea Room - 511 W 22nd St. Tel. (212) 691-2258

Site -
www.westchelseaarts.com


[ copyright © 2004 by Tania Menai ]

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