Todas as reportagens
Outras reportagens de: Expressions
- O Mais Amado
- Um carioca na Pixar
- Pão e Música
- CHELSEA e as galerias de Nova York
|
Bar Boulud, o novo restaurante do chef Daniel
01.maio.2008
Tania Menai, de Nova York
O garçom servia uma taça de châteneufe-du-pape, enquanto Felipe, um exigente gourmant sentado à minha frente, declarava a dúvida de sua vida: “croque madame ou croque monsier?” Ao escutar a pergunta, o maître, Matthew, aproximou-se e, num piscar de olhos, respondeu: “madame”. Bingo: o prato, acompanhado por folhas verdes, apresentava um belo pedaço de pão, coberto por uma farta camada de queijos gruyère e bechamél derretidos sobre fatias de presunto, uma das especialidades da casa, vindos da França, Espanha e Itália. A refeição, precedida de uma salada nantaise, e seguido por um gatêau basque, aconteceu no Bar Boulud, o novo restaurante (apesar de ter bar no nome) do chef Daniel Boulud – este é o mais casual e descontraído dos quatro templos gastronômicos que o francês, de Lyon, mantém em Manhattan (os outros são Daniel, Café Boulud e DB Bistrô Moderne).
Inaugurado em janeiro passado, e por isso ainda fora dos guias de restaurantes da cidade, o Bar Boulud foi bem vindo também pelo endereço que ocupa: esta é a única casa de Boulud no Upper West Side. E ainda fica em frente ao Lincoln Center, uma área sempre ávida por bons restaurantes para anteder aos que desejam jantar antes ou depois da ópera. “A criação deste novo espaço era uma conversa antiga entre eu e Daniel Johnnes, o diretor de vinhos”, explica Boulud. “Finalmente conseguimos”, comemora. Johnnes, um dos mais respeitados sommeliers dos Estados Unidos, gerencia a parte de vinhos de todos os restaurantes de Boulud desde 2005. A seleção dos vinhos foi inspirada em bares, vinícolas e plantações de Paris a Lyon – principalmente do Vale do Rhône e de Burgundy, regiões prediletas de Boulud quando o assunto é vinho. Também foram garimpados vinhos em Bruxelas, Napa Valley (Califórnia), Nova Zelândia, Austrália e Chile. Resultado? Uma carta de quase 500 rótulos.
“O objetivo deste restaurante é igualar vinho e refeição, além de criar um ambiente descontraído”, diz Boulud, que escolheu o premiado charcutier francês Gilles Verot para elaboar o cardápio de frios, executados na própria casa. Verot, que é terceira geração no ramo, vindo de uma família do Vale do Rhône, sabe o que faz: em Paris, tem duas charcuteires que levam seu nome. A cozinha, no entanto, é comandada por prata da casa. Tanto o chefe executivo, Damian Sansonetti, nascido nos Estados Unidos de uma família italiana, e o chef de cozinha, o francês Laurent Kalkotour, fazem parte do grupo de Boulud há pelo menos quatro anos. A maior parte da equipe vem de escolas de culinária, incluindo um paulistano.
A decoração clean, assinada pelo arquiteto Thomas Schlesser, lembra uma cave de vinhos; trata-se de um espaço longo e estreito, com mesas de madeira clara, que acomodam 100 pessoas, e teto arrendondado. Nas paredes, 21 obras do artista paulistano Vik Muniz, intituladas “Tâches de Vin”, ou “Manchas de Vinho”. O nome brinca com tasse de vin, copos especiais que os sommeliers penduram no pescoço. Amigo de Boulud, e também amante de vinho, Vik, que mora em Nova York há 25 anos, pegou restos de vinho de cada uma das 21 garrafas que abriu com Boulud e manchou cada um em guardanapos de linho. Em seguida, o artista fotografou as manchas, e emoldurou cada foto separadamente sob vidros quadrados – cada vidro tem gravado nome e o ano do vinho da respectiva mancha. Além da mesa que acompanha o bar, onde é possível pedir refeições, o restaurante ainda dispõe de três salas de jantar no subsolo, para eventos privados, onde também ficam as centenas de garrafas de vinho.
Um dos críticos de gastronomia do New York Times chegou a brincar dizendo que “recessão parece ser uma palavra sem tradução para o francês, ou pelo menos ninguém avisou sobre as atuais ameaças econômicas a alguns chefes nova-iorquinos, como Daniel.” Verdade é que os setores hoteleiros e de restaurante estão a todo vapor na cidade: são os únicos beneficiários da desvalorização do dólar, que tem trazido milhares de turistas europeus para este lado do Atlântico. Por isso, reserva e pontualidade são sempre recomendáveis – e conseguir uma mesa durante o dia pode ser infinitamente mais fácil do que pela noite. O menu do almoço é servido até 2.30 da tarde – depois disso, as opções giram em torno de tábuas de frios, até a hora do jantar, que começa às 5 da tarde. O cardápio nortuno também inclui menu degustação de charcuterie, com condimentos e mostardas, além da opção de um pre-fix de três pratos por $39 dólares para os que irão assistir a algum espetáculo no Lincoln Center (as atrações começam às 8 da noite). Mas neste caso, é preciso tomar cuidado: com esta bela carta de vinhos, há o grande risco de se dormir sentado na poltrona do teatro, ao som de música clássica ou, quem sabe, de algum tenor.
BAR BOULUD – 1900 Broadway (entre as ruas 63 e 64)
Reservas: (212) 595-0303 ou www.opentable.com
Aberto todos os dias para almoço e jantar.
[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
---
voltar |



|