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Os Bonzinhos Rodopiam
01.fevereiro.2011
Tania Menai, de Nova York
Entre setembro e dezembro as luzes do Grand Ball Room, salão de festas do tradicionalíssimo hotel Waldorf-Astoria, na Park Avenue, em Manhattan, nunca se apagam. Nesta época, há bailes de gala todas as noites. Durante 24 horas, há gente montando, festejando e desmontando. “O ciclo se repete de março a junho”, diz o americano James Blauvelt, diretor executivo de catering do hotel. Arquitetado na década de 30 para ser uma casa de óperas e recitais, o Grand Ball Room tem a altura de quatro andares, com balcões e boxes. É lá que acontecem os bailes filantrópicos de gala e festa de debutantes mais requisitados da cidade. “Nova York é repleta de instituições filantrópicas. Temos muita sorte de que esta é uma cidade muito rica e generosa”, diz Blauvelt. “Trata-se de um setor multimilionário para o hotel”, acrescenta ele, que organiza festas um número que varia de 700 a1200 convidados.
“Nova York é uma das principais cidades do mundo para consumo de vestido longo por causa dos charity balls”, diz o estilista paulistano Carlos Miele, que mantém uma loja na cidade. Estes eventos beneficiam uma variedade de causas, entre pesquisa para doenças, artes ou educação. Em jantares como este no Warldof-AStoria, costuma-se arrecadar sete milhões de dólares. Já a variedade e extravagância das festas reflete o multiculturalismo da cidade: há bailes sofisticados, como a do Instituto Espanhol. E há festas mais, digamos, “inusitadas”, como a Russian Nobility Ball, organizada pela comunidade russa. No Waldorf-Astoria entram elefantes, tigres, ursos e até vacas. “Já colocamos a “Champagne Cow, uma vaca que “produz” champagne, em vez de leite”, sorri Blauvelt. “Nosso elevador é imenso – é por ele que sobe a carruagem com dois cavalos, típica na Viennese Opera Ball, a mais tradicional do hotel”, acrescenta. Dos 1500 funcionários do hotel, 800 trabalham com alimentos e bebidas. A cozinha, que começa a funcionar `as 4 da manhã e prepara tudo do zero, se adapta ao menu do freguês. “Este ano, a noite de gala que beneficiou a casa de espetáculos Carnegie Hall, foi em homenagem `a Filarmônica de Viena; o menu foi austríaco”, conta Blauvelt. “Também tivemos a noite da Associação de Alergia Alimentícia, então arquitetamos um cardápio para 700 convidados, que excluiu ingredientes que costumam dar alergia, como amendoim, trigo, camarão – é possível criar entrada, prato principal e sobremesa, sem usar estes ingredientes”. Outro baile recente foi em prol a causas ambientais; o menu, para 1200 foi todíssimo feito com alimentos plantados numa distância de 260 quilômetros do hotel, obedecendo a filosofia do “local food”.
Poucas festas são exclusivas. Na época em que o hotel foi construído, Nova York era uma cidade onde existiam mais clubes privados e grupos fechados. Isso mudou quando o setor de filantropia se transformou em um grande negócio. Qualquer um que pagar um ingresso, senta e come. “São festas que podem levar mais de um ano para serem planejadas. Mesmo assim, é importante promover uma noite interessante e sofisticada para quem gasta milhares de dólares num ingresso, mesmo sendo filantrópica. É uma forma de retribuir a contribuição dos convidados”, explica ele.
Além dos casamentos que acontecem nos fins-de-semana, na semana entre o Natal e o Ano Novo, é a vez das duas festas de debutantes, nas quais os pais apresentam as jovens `a sociedade. Cada festa reúne de 25 a 40 jovens e seus pais e convidados pagam uma quantia que também tem fins filantrópicos. “Caso contrario seria algo superficial. Há necessidade de ter algum propósito”, diz Blauvelt. “O Waldorf-Astoria, junto com o The Plaza e o The Pierre, são os hotéis de luxo mais famosos para se dar uma baile filantrópico de gala. Mas as festas acontecem por toda cidade, como a festa de gala da Brazil Foundation, fundação brasileira sediada em Nova York e que ajuda causas sociais no Brasil. Em setembro passado, a fundação arrecadou 2, 4 milhões de dólares em sua festa na ala egípcia do Metropolitan Museum of Art, com a presença de Gisele Bunchen, Vik Muniz, Francisco Costa, da Calvin Klein, e Nizan Guanaes.
O americano Alan Feuer é um um autêntico arroz-de-festa destes eventos. Freqüentador de uma media de 12 festas por ano, ele não acha exagero. Culto, conhecedor de história mundial, e apaixonado pela diversidade de Nova York, Feuer cresceu com dinheiro da família e começou desde cedo a se envolver com os comitês organizadores de festas filantrópicas. Hoje, seu pequeno e modesto apartamento, no Upper East Side, é revestido por mais de cem porta-retratos do chão ao teto – na sala e na cozinha - que emolduram fotos de bailes desde a década de 50. “A era do rico que não trabalha acabou há muito tempo. Sim, ainda há quem viva do dinheiro do avô”, diz Feuer, sentado em sua poltrona, “fumando” um cachimbo preso a uma sonda de oxigênio, a qual indica uma saúde debilitada. “Mas hoje, a maior parte dos filantropos é gente que ganhou seu próprio dinheiro. Eles trabalham muito. Não gastam como eu. Meu dinheiro acabou”.
Ainda assim, Feuer, que vive sozinho e preserva um bigode, faz uma lista de todas as datas, festas e doações as quais ele freqüenta. De primeiro de outubro de 2010 a 13 de maio de 2011 ele terá ido a 16 bailes, e doado quantias que vão de 110 a 7.500 dólares, este último para o Costume Institute, divisão de moda do Metropolitan Musem of Art. Para a Viennese Ball, que acontece no dia 4 de fevereiro, ele desembolsa este ano 950 dólares. Três das festas acontecem no The Waldorf-Astoria, duas no The Pierre, duas no The Plaza, uma no Metropolitan Museum of Art, para se ter uma idéia. Feuer conta que as festas “A List”, ou seja, as listas de convidados que reúnem a nata da nata da sociedade, são as aquelas que levantam fundos para museus, instituições acadêmicas e hospitais.
Ele diz que uma festa que beneficiará o hospital Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, ou o hospital infantil Saint Luke, ambos dedicados a pesquisa de câncer, coloca-se de 800 a 900 pessoas no Waldorf-Astoria. Já em uma festa dedicada a bolsas para mestrados de alunos alemães, como o baile Quadrille, consegue-se 400 pessoas. “Numa época onde a saúde é prioridade, as pessoas que pagam 500 dólares por um ingresso preferem que este dinheiro vá para pesquisa em câncer”, diz ele. “Claro que estudantes de mestrado também merecem dinheiro – são pessoas talentosas que podem vir a descobrir novidades para o mundo; e que sem ajuda talvez não teriam tanto sucesso”, diz ele, acrescentando que
Para Feuer, o mais marcante de todas estas festas é a beleza das mulheres. Ele mostra uma foto da década de 60 de uma Viennese Ball, onde uma charrete trouxe os cantores do baile para dentro do salão. “Numa sociedade londrina, você tem de pertencer a uma certa família, um clã, ter um pedigree. Em Nova York, basta ter dinheiro, e saber usar os talheres”, revela. “Se você colaborar financeiramente com um museu ou igreja, e doar de 50 a 100 mil dólares por ano em filantropia, você é bem-vindo em qualquer lugar”, acrescenta.” Claro que se o cidadão não tiver bons modos, o dinheiro não lhe comprará um lugar na sociedade. Não precisa ser nada fora do comum. Basta apenas ser o menino ou menina que obedeceu o que a mãe falou.” Feuer foi um desses bons meninos. Ele nasceu em Nova York e foi parcialmente educado na Inglaterra. Conta que, desde jovem, tem amigos em muitas organizações de filantropia na cidade. “Quando você é convidado para uma festa, normalmente te perguntam se você quer fazer parte do comitê organizador”, lembra Feuer. “A partir daí você conhece um outro amigo que também organiza estas festas, e por aí vai”. O comitê jovem negocia o salão, recebe os convidados, e traz mais gente jovem e bonita para as festas.
Uma das festas que ele freqüenta é a Russian Nobility Ball. Ele explica que os russos de Nova York são divididos em duas comunidades, muito distintas entre si: os que chegaram depois da revolução e os que chegaram recentemente. A primeira leva desembarcou nada. “Ainda assim, há muitos nomes proeminentes nas sociedade americana; outros mantêm instituições filantrópicas, algo que não é fácil”, diz Feuer. “Já os novos russos trazem energia e muito dinheiro. Mas é uma imigração diferente. Sem títulos, apenas saindo de um pais de um passado difícil.” Hoje, Feuer faz parte do Military Ball, que é dedicado a solados, marinheiros e veteranos. “Celebramos a herança comum porque os americanos vêm de todas as partes. Todos eles celebram avôs e bisavôs que vieram aqui como imigrantes, com uma mão na frente e outra atrás e plantara raízes para estas gerações”, observa. “Contribuo com qualquer organização que pede ajuda. “Apenas peço que me alimentem.”
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[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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