Adrien Brody
15.dezembro.2005
Tania Menai, em Beverly Hills.
Foi em 2003 que o nova-iorquino Adrien Brody, então com 29 anos, entrou para a história do cinema. Ele foi o mais novo ator a receber um Oscar de melhor protagonista. Adrien reviveu, brilhantemente, a saga do polonês Wladyslaw Szpilman, um sobrevivente da Segunda Guerra Mundial, em O Pianista. Para interpretar o personagem, o jovem ator - que nasceu no Queens - vendeu o carro, cortou a linha telefônica, mudou-se para a Polônia, passou fome e isolou-se por mais de um mês. Contudo, depois de O Pianista, o ator recebeu algumas críticas por não ter sido muito feliz nas escolhas dos papéis seguintes. Ou pelo menos até agora. Adrien será Jack Driscoll, um dos protagonistas de King Kong, um remake de três horas dos clássicos de 1933 e 1976, e novo épico do diretor neozelandês Peter Jackson. O filme, que estréia em dezembro, foi rodoado inteiramente na Nova Zelândia durante nove meses sugando 207 milhões de dólares – incluem-se aí os cenários que remontaram a Nova York dos anos 30 e os efeitos especiais que deram vida ao gorila. Calmo, sorridente, vestido de camiseta preta, calça jeans e tênis novo, Adrien, hoje com 32 anos, nos recebeu para esta entrevista exclusiva em Beverly Hills.
Como foram os nove meses na Nova Zelândia?
É um lugar muito bonito, onde as pessoas são muito amáveis. Eu estava imerso no trabalho, mas tinha saudades de casa. Sentia falta de estar com meu cachorro e com minha familia. A parte difícil é estar longe de sua própria cultura. É bom estar em casa, onde a gente se sente confortável.
As primeiras versões de King Kong, de 1933 e 1976, foram relevante na sua infância?
Tiveram algum impacto, mas este papel não era algo que imaginaria fazer.
Depois de sua performance em O Pianista, as pessoas esperam que você seja mais cauteloso ao escolher novos papéis?
Independente do que as pessoas acham ou gostariam de ver, estas escolhas têm de partir daquilo que me move, que me desafia, que me faz crescer. Sou ligado a papéis dramáticos. Eles são muito desafiantes e difíceis - mas eles me preenchem ainda mais por dizerem algo sobre a sociedade e sobre lutas as internas que todos nós enfrentamos. Como ator, você tem o luxo de focar bem de perto em tudo o que um outro indivíduo ser o que é. Depois de entender isso, interpretar esta pessoa, vestir sua camisa e viver sob suas circunstâncias, voltamos para a nossa vida com uma compreensão maior de nós mesmos e de outras de pessoas. Passei a compreender a condição alheia - seja a pobreza que lhes levaram a ser de certa forma, ou a riqueza com a qual as pessoas se acostumam e que as levam a ter menos solidariedade com quem tem menos sorte. Os mais afortunados não conhecem este tipo de sofrimento. Se você tem a oportunidade de interpretar ambos personagens, você compreende as pessoas de uma forma melhor, e entende também por que muita gente não é melhor.
O que este papel mudou em você?
O Pianista me mudou de maneiras que eu jamais imaginara. Passei por muita coisa para entender esse personagem. Achei que era necessário passar por isso, quase que para honrar todas as pessoas que sofreream naquela época. Aqueles eram os pequenos sacrifícios que eu poderia fazer. E o tema era muito próximo ao Roman Polanski. Meu pai, Elliot Brody, é judeu de origem polonesa. Isso me ajudou na construção deste papel. Mas sempre senti que eu era contectado àquele tipo de tristeza de uma certa forma. Tudo isso, inevitavelmente, muda uma pessoa. Mas, ao mesmo tempo, algo interessante aconteceu também: desde que ganhei o Oscar, notei que a percepção das pessoas sobre mim mudou. Contudo, o filme foi rodado um ano e meio ou dois anos antes da cerimônia do Oscar. Então eu já tinha mudado e beneficiado bastante, como ser humano, das minhas experiências daquele filme.
Qual foi a cena mais marcante ?
Tiveram muitos momentos, o processo em geral foi muito interessante. Desliguei-me da minha vida pessoal, passei fome, uma experiência nos dá uma idéia de como isso te afeta psicilogogicamente. Felizmente, nunca tive de passar fome antes. Durante a preparação do personagem eu poderia comer, se eu quisesse. Mas não comi; ou comia pequenas porções. Mas hoje consigo imaginar o desespero de quando não há nenhum alimento por perto. Isso é incrivelmente triste. Acredite, depois dessa experiência eu pensava em comer a toda hora. Infelizmente, somos muito vulneráveis e não nos damos conta disso. Estamos a mercê de organizações governamentais, de desastres naturais como o de New Orleans - nunca tinha visto coisa assim, ou pelo menos não na minha geração.
O que um Oscar aos 29 anos lhe touxe?
O prêmio também me mudou porque me pôs no mapa, imediatamente, de uma maneira bem maior do que qualquer trabalho anterior. As pessoas começam a ler sobre você nas revistas e em outros lugares. Então notei que as pessoas passaram a ter uma idéia pré-concebida de quem eu era, de qual eram meus interesses, de como eu era como ser humano. Talvez eu tenha mudado em decorrência do sucesso; mas senti que tudo mudou a minha volta também. As pessoas mudaram na maneira de falar comigo, e na forma de lidar com as diferentes situações. E isso te força a mudar também; você não pode ser o mesmo se as coisas em voltam mudam – e continuam mudando.
Essas mudanças foram todas positivas?
Foram interessantes. Mas não posso dizer que tudo nisso seja positivo - mas faz parte do que vem junto com a fama. E isso é a rua de mã-dupla que acompanha o sucesso do trabalho de um ato,r ou seja, fazer com que os seus personagens sejam visto pelo mundo e transmitir essas emoções para as pessoas. Se você passar bastante honestidade, você vai receber bastante honestidade de volta. Por outro lado, há gente que fica desconfortável com você, ou magoadas por pensar que você era uma coisa que não corresponde a realidade ou às suas próprias aspirações. Há algo nebuloso nisso tudo, além de uma energia que não é puramente baseada no seu trabalho de ator.
Há uma diferença entre ser ator e ser estrela de cinema. Você é tido como ator – mas também passou a ser uma estrela de Hollywood. Você tem conciência dessa diferença?
Sim. O ideal é ser um ator de verdade e uma estrela de cinema. Um ator sempre quer ser a estrela do filme e ter a oportunidade de interpretar os maiores papéis disponíveis e que tem a ver com ele. Se eu tiver a oportunidade de fazer um coadjuvante é bom também, mas meu objetivo são os grandes papéis. King Kong, por exemplo, é um épico no qual tive a oportunidade de participar desta forma. Mesmo sendo um filme grandioso, meu papel é romântico, não é um papel típico daqueles heróis musculosos. É um papel em que o personagem é forçado a ser heróico.
Certa vez, você disse que filmes com temas sociais dão mais prazer. Por quê?
Se você tiver a oportunidade de estar num filme que te faz pensar mais sobre condições em nossa sociedade e que inspiram pensamentos, é sinal que estamos fazendo algo grandioso que não é apenas entretenimento. Não há nada errado com entretenimento, mas pode-se fazer mais do que isso. Para crescimento pessoal, sinto-me muito sortudo, fazendo os filmes que fiz porque eles me ensinaram muito, sobre mim, sobre a vida.
Será que você herdou esta ótica da sua mãe, Sylvia Plachy, fotógrafa do Village Voice, um jornal nova-iorquino que lida com aspectos sociais?
Provavelmente sim, de ambos meus pais. Ambos superaram a pobreza. Minha mãe fugiu da revolução, na Hungria, e veio para os Estados Unidos e o meu pai veio da Polônia. Ambos são muito fortes, honestos, sensíveis às necessidades de outras pessoas principalmente por causa de sua capacidade de compreender essas necessidades, por causa de suas próprias experiências.
Você atuou por seis meses no Vietnã no elenco do filme Thin Red Line. Quando chegou na noite de estréia viu que todo o seu trabalho ficou de fora. O que você aprendeu com isso?
Isso foi uma novela. Este episódio da minha vida daria um livro. Aprendi sobre decepção. E aprendi a superar uma decepção. Isso é importante. Aprendi que a vida não é justa. Mas aprendi também o que sou forte.
Nas suas primeiras entrevistas para ator, você vestia um terno de segunda mão que valia 24 dólares. Anos depois, você foi o garoto-propaganda de Ermenegildo Zegna, um dos maiores designers da moda italiana. Isso afetou a sua carreira?
Talvez. Na época não chegou a machucá-la.
Como foi deixar Nova York para morar em Los Angeles?
Nova York é mais impressionante que Los Angeles em vários aspectos. Mas, na verdade, hoje e viajo tanto que não moro em mais nenhum lugar. Vivo neste mundo.
Como é ser um galã? A invasão de privacidade te incomoda?
Sinto-me lisonjeado. É bom quando as pessoas falam o quanto elas gostam de você, o quanto te acham atraente. Isso é muito bom. Já a falta de privacidade faz parte do trabalho, infelizmente, faz parte da cultura. As pessoas se interessam por celebridades. Temos de aprender a lidar com isso.
Ao buscar seu nome no Google cheguei a alguns sites de fã clube. Um deles, inclusive, saiu fora do ar porque as meninas não tinham pago a conta do website!
Ah, pensei que você ia dizer que o site faliu por falta de acessos. Eu já ia te agradecer por me avisar. Não me importo, elas não precisam de dinheiro, tudo bem, com tanto que eles continuem entusiasmadas.
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[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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