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Juliana Parrot
06.fevereiro.2006

Tania Menai, de Las Vegas

Quatro artistas brasileiros dos shows KÀ e Zumanity receberam Viagem e Turismo nos bastidores dos shows para entrevistas exclusivas.

Para a carioca Julia Parrot, 33 anos, morar longe da família é uma constante. Apaixonada por acrobacia, ela ingressou na Escola Nacional de Circo ainda na adolescência, pois sonhava com saltos mortais. “Enquanto minhas amigas iam para a academia, eu ia para o circo”, diz ela. Mas lá, os professores acabam envolvendo os alunos no mundo circense e em menos de um ano, Julia já era trapezista. Deixou o Rio de Janeiro aos 18 anos para estudar artes plásticas na França, onde também . fez aulas de circo em várias cidades. Chegou a participar do circo de Marcos Frota no Brasil e também já morou em Portugal. Quando resolveu voltar para a terra natal de vez, o Cirque du Soleil apareceu em sua vida. Foi lá que, em 1997, ela soube da audição companhia. “Estava totalmente fora de forma, pois estava trabalhando como designer - tive dois meses para me exercitar”, conta ela. “Nunca pensei que eles fossem me chamar – mas me escolheram na hora para o show La Nouba, de Orlando.”

Em maio de 1998, ela embarcou para Montréal, sede da companhia, onde ensaiou durante 5 meses. Depois de sua temporada de quatro anos no La Nouba, ela voltou para Montréal onde ficou um ano e dois meses (incluindo o inverno) ensaiando para o KÀ. “Neste show precisamos conhecer bem o nosso corpo pois fazemos trabalho de acróbata e bailarina – mas ninguém faz trabalho de circo. Apesar de estarmos pendurados o tempo todo por material de alpinismo, não há números de arame ou trapézio”, diz Julia, que atua em três números, sempre nas alturas e duas maquiagens diferentes. A primeira é ela mesma que faz. “A maioria das técnicas são inovações dos criadores deste show – nem mesmo o diretor sabia o que seria deste show, acho até que este sim deveria se chamar Mystère!”, brinca.

As coreografias e saltos são feitos primeiro. A música é criada depois. As roupas também depois de muitos ajustes com tecidos que não escorreguem nem demais, nem de menos. Julia diz que para profissionais da área circense o Cirque du Soleil é o que oferece melhores condições. E ela sabe do que está falando: a artista domina os diversos tipos de trapézio como o simples, o volante e o balanço, faz contorcionismo, arame alto, pendura-se numa faixa de tecido que faz parte de quase todas as apresentações da companhia. Durante a preparação para KÀ, Julia se machucou, chegando a operar o ombro e ficar cinco meses longe da ribalta. Apesar disso, acompanhou a preparação show de perto ao lado do diretor - e foi aí que aprendeu ainda mais sobre artes cênicas. Além de suas especialidades, artistas recebem workshops e aulas de teatro, aparelhos novos, dança. “Desta forma, abrimos nossa cabeça artisticamente e ver o que está acontecendo no mundo nesta área”, conta.

Julia ainda é pintora. Ela passa as manhãs em casa, dedicando-se a pintura. E a tarde ela vai ao teatro, preparar-se para as duas apresentações da noite. Confessa ainda que sai para dançar salsa às sextas e sábados depois do show, e acampa das redondezas ecoturísticas de Las Vegas. Apesar de toda a tecnologia que shows fixos oferecem, seu show predileto é Saltimbancos, que conta apenas com fumaça. Ela conta que KÀ tem mais de dez nacionalidades, incluindo Mongólia, Ucrânia, Japão, México, China e Rússia. E que todos que participaram da preparação deste show criaram uma boa amizade. Julia, que tem vontade de voltar para o Brasil, diz que os oito brasileiros, então, tornaram-se uma família. Teuda Bara, por exemplo, atua em quase todos os quadors de KÀ. Atriz de Minas Gerais, ela foi importada do Grupo Galpão e recebeu bastante ajuda de Julia que traduziu o que os diretores falavam durante os ensaios. Sempre bem humorada e carinhosa, Teuda é tida como a grande mãe da turma brasileira - com ela, não falta nem mesmo um bom prato de arroz e feijão. E quando perguntamos se o KÀ é o maior show da Terra, Julia responde no bom carioquês: “É o bicho!”

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