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A nova Little Italy de Nova York
01.maio.2011
Tania Menai, de Nova York
Nova York não precisa de mais nenhuma atração para continuar sendo o que é. Mas em agosto de 2010, a cidade ganhou mais uma: o Eataly, a mais nova instituição gastronômica. O espaço de 5 mil metros quadrados traz aquilo que a Itália tem de melhor: a identidade nacional. Aqui pode se comprar refrigerantes italianos, vinhos da região de Langhe, queijos exclusivos de pequenos produtores do país, carne de animais com pedigree piamontês, massa fresca feita diariamente in loco, pizza napolitana, legumes e verduras de fazendas locais, peixes selecionados pelo chef de cozinha e pescador David Pasternack, livros de culinária e até apetrechos da marca Alessi. O espaço é dividido entre Salumeria e Formaggio, laboratório de massas frescas, estação da mozzarella feita `a mão, escola para aulas gastronômicas, paniteria, padaria, açougue, confeitaria. Cansou? Ainda há um restaurante que serve somente peixe, outro somente pizza e massa, um terceiro só de vegetais e outro, chamado Manzo, de carnes – para este, necessita-se reserva. A decoração é clean e o slogan “vendemos o que cozinhamos e cozinhamos o que vendemos”.
O empreendimento é fruto de um casamento do italiano Oscar Farinetti – que criou o primeiro Eataly em Turim – e do trio ítalo-americanos Joe e Lidia Bastianich e Mario Batali, os dois últimos grandes estrelas da mídia. A faixa de inauguração do império foi feita em massa fresca com as cores da bandeira italiana pelo chef pastaio carioca Felipe Saint-Martin, único gerente brasileiro da equipe. A faixa foi cortada pelo prefeito Michael Bloomberg, que na ocasião citou, com sorriso de orelha a orelha, que o estabelecimento emprega 500 pessoas. Desde o primeiro dia, o mercado tem atraído milhares de pessoas; passear por lá nos fins-de-semana já tornou-se impraticável. “Temos três tipos de visitantes”, explica Saint-Martin, que também já passou pela cozinha do renomado restaurante Gramercy Tavern. “Aqui recebemos as pessoas da vizinhança, turistas do mundo todo e americanos que moram nas redondezas da cidade”, explica ele. Saint-Martin passou um mês em treinamento na sede de Turim para assumir o cargo; hoje sua praça produz uma tonelada e meia de massa fresca por semana, avidamente consumida pelo grande público que namora a variedade no balcão, e por dois restaurantes da casa.
O que poucos sabem, no entanto, é que, além de toda a qualidade e sofisticação dos produtos e serviço, a instituição segue a filosofia “slow food”. Isto significa que cada ingrediente – seja os ovos, massas ou as carnes – vem de pequenos produtores que respeitam os animais, as leis trabalhistas, e a sustentabilidade. Esta filosofia nada tem a ver como a idéia de tempo. O adjetivo “slow”, neste caso, designa uma oposição `a indústria “fast food”. Um dos objetivos deste movimento, criado pelo italiano Carlos Petrino em 1986 e hoje presente em 132 países, é também resgatar os sabores em extinção; muitos desapareceram a medida em que a indústria alimentícia ganhou força. O primeiro Eataly nasceu em 2006 a partir da idéia de Farinetti, um já bem sucedido empresário italiano. Ao ver que os pequenos produtores se reuniam anualmente num evento chamado Salone Del Gusto, que promove a iniciativa na Itália, ele então quis levar o movimento para as massas. Assim, nasceu o Eataly como forma de promover a idéia de uma forma rentável, criando empregos, e educando o público sobre a importância deste movimento.
Antes de Nova York, Farinetti abriu filiais em Londres, Tóquio e pequenas versões do Eataly em cidades menores da Itália. Este ano, é a cidade de Genova que ganha o seu mercado. Todas as filiais respeitam a filosofia, buscando produtores locais em suas cidades que se enquadram no projeto. Por exemplo, o único produto industrializado em grande escala vendido pelo Eataly de Nova York são as massas da marca Barilla; apesar de grande, ela respeita os princípios do slow food. Já as vacas, criadas no Estado de Nova York, vem de um pedigree de origem da região de Piemonte, e são tratadas como manda o figurino. Os 20 tipos de massa fresca arquitetada pela equipe de Saint-Martin utilizam ingredientes de fazendeiros locais, não contem preservativos e são preparadas diariamente. O raviolli é o best seller; alem de ser uma massa recheada (ele oferece cinco variedades), é fácil de cozinhar, explica o chef.
No restaurante de peixe, uma curiosidade: serve-se só peixe. Não há acompanhamento. O mesmo acontece no restaurante de massas e no vegetariano. O objetivo? Ressaltar o valor do ingrediente principal; ou, talvez até, resgatar um sabor perdido no mundo das comidas processadas. O sucesso da marca é tanto, que a história do fundador mereceu um livro, sem tradução para o português, intitulado “Il Mercante di Utopie – A história de Oscar Farinetti, o inventor do Eataly” (editora Sperling & Kupfer). Para garantir a qualidade do sangue na filial de Nova York, quem manda ali é Nicola, um de seus dois filhos. Pelo visto, só falta a mamma.
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[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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