Todas as reportagens

Outras reportagens de: Lola Magazine

- Os Bonzinhos Rodopiam
- O dinheiro de Marilyn Monroe

Dona Liz e seus dois maridos
02.novembro.2010



Em Comer, Rezar, Amar, eles tiveram a identidade preservada, mas foi por pouco tempo. Em papéis completamente opostos, Michael Cooper, o ex, e José Nunes, o atual, entraram no rol da fama como os homens que dividiram em duas a história de Elizabeth Gilber.

Tania Menai, de Nova York

O DESLOCADO

Desde o primeiro parágrafo de seus livro, Liz poupou seu primeiro marido, Michael Cooper, dos holofotes. Não revelou seu nome e nem a razão pela qual se separaram. Ainda assim, e talvez por isso, a curiosidade é grande. Michael não comenta sobre o livro da ex-mulher, da qual se separou há dez anos. Em vez de comer massa italiana, rezar com budistas e namorar brasileiras, Michael buscou outros caminhos para se curar: foi para o Iraque, Irã, Kosovo, Mongólia, entre outros, países para fazer ajuda comunitária. Hoje, ele é casado com a diplomata canadense Béatrice Maillé, tem dois filhos pequenos, Sammy e Charlie, e chegou a escrever um livro contado seu lado da história. O manuscrito, chamado Displaced (ou Deslocado), foi recentemente retirado da editora que iria publicá-lo. “O combinado é que eu iria escrever sobre como eu, lentamente, recomecei a minha vida, depois de um divórcio dolorido e inesperado”, revelou ele a jornal The New York Post. “Durante uma década, dediquei-me a direitos humanos e causas humanitárias. No fim, pareceu-me que a editora queria empurrar meu livro para uma direção mais contraditória – coisa que eu não quero fazer. Estou explorando opções com outras editoras” , completa ele, que foi diretor do Mercy Corps e Human Rights Watch, ambas instituições dedicadas a Direitos Humanos. A editora com a qual ele cancelou o contrato chegou a mudar o titulo do livro de “Deslocado” para “O Marido: a história de um homem que se casou, separou e seguiu em frente”. Esta não era a idéia de Michael.

O cancelamento do contrato com a editora foi bem recebido pela imprensa americana e por blogueiros, que acharam a iniciativa um ato de classe, em vez de o autor se vender de uma forma indesejada em troca de dinheiro. Michael é hoje um acadêmico na área de direito da Georgetown University, em Washignton. Quem o conhece, diz que ele vai bem obrigado.

Apesar de a relação entre ele e Liz continuar um segredo, sabe-se que uma diferença entre os dois era a visão que cada um tinha em relação ao dinheiro. Michael gastou os dez mil dólares que a família de Liz os presenteou (para começarem a vida juntos) na pequena festa de casamento. Isso foi contra a vontade de Liz, que queria uma celebração de fundo-de-quintal. Liz veio de uma família mais simples, e Michael tinha relação mais relaxada com o dinheiro. Ele sempre quis uma festa de casamento, o que gerou muita briga entre o casal. Ela se rendeu e diz que gostou tanto que teria feito tudo de novo, mesmo se a mesma festa custasse cem mil dólares. O casamento durou seis anos. Liz, revela que sempre teve o hábito de financiar os homens de sua vida, ainda manda cheques para Michael, já que o casal não teve filhos.

O ESTRANGEIRO

Não deve ser fácil ser um homem reservado e ter sua vida pessoal escancarada num best seller internacional seguido por um filme de Hollywood estrelado por Julia Roberts. E, pior: ser vivido, no filme, pelo galã espanhol Javier Bardem. Mas este foi o destino do gaúcho José Lauro Nunes, 58 anos, que na obra da americana Elizabeth Gilbert, Comer, Rezar, Amar, com quem se casou em 2007. José Lauro, 17 anos mais velho que a autora, é o personagem principal do capítulo ‘Amar’ e leva o pseudônimo de Felipe. Eles se conheceram em Bali, na Indonésia, num jantar onde o menu era feijoada com caipirinha. José Lauro era separado da primeira esposa, e vivia sozinho em Bali. O gaúcho não fala com a imprensa e até recusou um convite para dar entrevista `a Oprah Winfrey, a entrevistadora mais famosa do mundo. Hoje, ele vive com Liz em Frenchtown, uma micra cidade de 1500 habitantes no estado de Nova Jersey, onde ele administra a loja Two Buttons, de artigos asiáticos.

Aventureiro, José Lauro nasceu na pequena cidade de Redentora, no Rio Grande do Sul. Caçula de três irmãos, sua família mudou-se para Porto Alegre na década de 60. A família era simples, por isso José Lauro começou a trabalhar desde a época da escola: recolhia ossos de açougues e matadouro e os vendia para fábricas de cola. Também recolhia sucata para vender em ferros velhos. Mas havia uma paixão: a ginástica artística. Aos 16 anos, ingressou num clube local e passou a abocanhar medalhas em campeonatos. Na década de 70, foi `a Argentina competir e voltou com gosto de quero mais. Aos vinte e poucos anos, vendeu a moto, fez vaquinha e foi ver o mundo. Fez de tudo: rodou a Europa lavando prato, trabalhando em construção civil, em galvanizadora e até num kibutz, em Israel.

José Lauro passou um mês no Brasil, mas logo deu coceira. Voltou a rodar o mundo, conheceu sua primeira esposa, uma australiana. Ele mudou-se para a Austrália, onde nasceram seus dois filhos, Zo e Erica. O casal se separou 17 anos mais tarde. Foi ai que José Lauro arrumou as malas pela terceira vez. Instalou-se em Bali, conheceu Liz, que era separada, e o resto é contado com detalhes sórdidos no livro da americana. Mas tudo bem. O vulgo ‘Felipe’ está bem na fita. José Lauro, que tem cidadania australiana e brasileira, passou a morar com Liz nos EUA, entrando e saindo do pais, e trabalhando com importação de pedras e gemas.

O casal alugava uma casa na Filadélfia, quando decidiu viajar para o exterior no primeiro semestre de 2006. Na volta pousaram no aeroporto de Dallas. Sem visto permanente no país, José Lauro saía e entrava dos EUA a cada três meses e pedia um visto de mais noventa dias de estada no país. Ao fazer isso repetitivamente, naquela chegada em Dallas ele foi pego pela malha do Homeland Security, agência criada depois dos ataques de 11 de setembro, que monitora todas as entradas do país, seja aeroportos, estradas ou portos. José Lauro foi interrogado por seis horas por um agente de nome “Tom” que, em seguida, colocou-o num vôo para a Austrália. E alertou ao casal que a única maneira de José Lauro poder ficar legal no pais seria casando com Liz: desta forma, ele obteria o greencard, ou documento americano de residência permanente.

O problema é que o trato do casal era...não casar. Mas foi assim, sem saída, que ambos superaram o trauma de suas relações passadas e partiram para a árdua burocracia que qualquer cidadão estrangeiro passa para obter o greencard. O pesadelo terminou em fevereiro de 2007 e, quando o prefeito de Frenchtown os declarou marido e mulher. O casamento foi em casa, testemunhado pela família próxima e o cachorro. José Lauro cozinhou e Liz teve até de lembrá-lo de tirar o avental antes de dizer “sim”. Entre o dia da deportação até o dia do casório, o casal passou o tempo no sudeste asiático, já que José Lauro não podia pisar em solo americano. O casamento – que foi feito com um acordo pré-nupcial de bens - resultou num segundo livro de Liz: “Comprometida”, no qual Liz conta que fez as pazes com o casamento, mas mudou sua forma de ser. No primeiro casamento, contou ela `a imprensa canadense, ela se via obrigada a largar tudo o que estava fazendo quando o marido entrasse em casa.

Hoje ela não faz mais isso. E completou dizendo que com muito dinheiro (por causa do livro e do filme) e sem filhos, o estresse conjugal diminui. Na última página de sua nova obra, Liz não esqueceu de agradecer a Tom, o agente de imigração que deu um empurrão para o casamento.

# # #


[ copyright © 2004 by Tania Menai ]

---

voltar