Alugam-se maridos
22.março.2000
Tania Menai, de Nova York
A vida anda dura para a mulherada americana. Não bastasse o número crescente de homens que vão pedir açúcar para o vizinho e acabam trocando a mulher pelo sujeito, os que ficam não estão dando conta do recado. Não que eles não sejam louros, altos e bonitos. Até são. O problema é que não sabem arrumar uma telha, nem limpar o ralo do banheiro, nem matar barata de modo rápido e limpo - quesitos básicos para qualquer homem que queira impressionar uma mulher.
Felizmente, as americanas já podem contar com homens que dão no couro quando o assunto é a solução de encrencas domésticas. Basta discar para a empresa Rent-a-Husband (Alugue um marido) e alugar os serviços de um homem por algumas horas. Isso mesmo. Você liga e em poucos minutos um rapagão alto e forte bate à sua porta, pronto para o que der e vier: consertar a persiana, arrumar a torradeira, pendurar aquele quadro pesado na parede ou dar um jeito definitivo naquela maldita goteira na cozinha. O serviço é o sonho de toda mulher independente. Por 25 reais a hora, é possível ter dentro de casa um homão com mãos grandes e habilidosas, resolvendo todos os problemas. (Bem, quase todos.) E o que é melhor: elas não precisam casar com eles.
O que está por trás do sucesso da Rent-a-Husband é a crescente tendência de profissionalização do setor de biscates nos Estados Unidos - que movimentou 90 bilhões de dólares em 1999 e, como em qualquer outro lugar, costuma ter níveis muito baixos de eficiência. Numa economia altamente competitiva como a americana, quem não busca, todo dia, fazer melhor, mais rápido e mais barato morre depressa. A busca pela excelência, portanto, se dá em todos os setores. Mesmo no de serviços avulsos.
A Rent-a-Husband nasceu em Portland, no estado do Maine, em 1996, com um investimento inicial de apenas 500 dólares. Para este ano, o faturamento projetado é de 8 milhões de dólares. A empresa tem franquias em 31 cidades nos Estados Unidos e em duas na Inglaterra. E tem quase 4 000 pedidos de franquias sendo estudados. Mas Kaile Warren, o ex-operário da construção civil que fundou a empresa, não pretende deixá-la explodir de uma só vez. Seu plano é ter franqueados nos 50 estados americanos dentro de um ano e 1 000 espalhados pelo mundo até 2005. Inclusive no Brasil. "Por que não?", indaga Warren. "A demanda por bons maridos é universal!"
O objetivo de Warren é transformar os serviços que presta na profissão mais digna e especializada possível. Para ser um marido de aluguel na Rent-a-Husband é preciso saber se comunicar bem e encarar a atividade de faz-tudo como uma carreira. Depois de contratados, os profissionais são treinados intensivamente e instruídos não só a consertar pias e fechaduras, mas a tratar bem os clientes - o que muitas vezes não é fácil, considerando que os fregueses são na sua maioria donas de casa à beira de um ataque de nervos.
Filho de carpinteiro, Warren cresceu ajudando o pai. Em 1993, um acidente de carro o deixou debilitado. O período de um ano e meio de reabilitação física fez com que perdesse o emprego e a esposa. Durante aquela fase dura, teve a grande idéia de sua vida. "Antigamente, neste país, os pais ensinavam seus filhos a manter uma casa", diz. "Hoje, todo mundo está preocupado em aprender sobre computadores e seguir carreiras universitárias. Ninguém mais sabe como martelar um prego. Esse é o vácuo que ocupamos no mercado e o segredo do sucesso da Rent-a-Husband".
[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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