Como conquistar novos mercados
04.outubro.2000
Tania Menai, de Nova York
Com ares de Carmem Miranda, músicas de Elis Regina e 32 modelos, homens e mulheres, a grife paulista de moda de praia Rosa Chá mostrou para os americanos o que é que a brasileira tem. No último dia 21, a empresa desfilou sua nova coleção na Seventh on Sixth, um dos maiores eventos do circuito da moda mundial. Para participar do agito, é preciso passar pelo pente fino de uma comissão selecionadora. A Rosa Chá foi a única eleita em sua categoria, deixando para trás candidatos americanos e europeus.
A empresa brasileira gastou 130 000 dólares para mostrar a cara em Nova York, repetindo seu desfile de julho no MorumbiFashion, em São Paulo. "Nossa intenção é aumentar as vendas nos Estados Unidos, solidificar e internacionalizar a marca", diz o designer Amir Slama, 35 anos, que criou a grife em 1989.
Com 180 funcionários, a empresa produz 400 000 peças por verão - a produção começa no fim de junho e vai até dezembro. Em fevereiro, o trabalho se volta para o mercado de alta costura americano. Este ano, a empresa exportou 36 000 peças, ou 9% de sua produção, um crescimento significativo comparado ao 0,5% desde que ela entrou no mercado americano, há quatro anos. Com o desfile, a expectativa é que esse número aumente para pelo menos 20%.
A Rosa Chá não é a única grife brasileira a colorir as areias dos Estados Unidos. A diferença é que marcas como a carioca Salinas entram na categoria de roupa de surfe. No último verão americano, que terminou oficialmente no dia 20 de setembro, a Rosa Chá chegou a ocupar espaços exclusivos em algumas das melhores lojas de departamentos de Nova York. Nas araras vizinhas ficavam marcas como Chanel ou Calvin Klein.
O preço de custo de cada peça da Rosa Chá gira em torno de 30 reais. Na viagem, a distribuidora vai pagando um impostinho aqui, outro ali, e um biquíni acaba chegando às lojas com o valor dobrado. Aí vêm uns pequenos reajustes, que ninguém é de ferro, e voilà, as etiquetas marcam de 90 a 140 dólares.
A grife chegou aos Estados Unidos quando recebeu oferta de uma revendedora de Los Angeles. Em dez dias de amostra, ela já tinha pedidos de lojas como a Barneys e ocupava os principais editoriais de moda. Hoje, a representante americana é exclusiva.
"As pessoas sempre olharam para o Brasil como um grande produtor de tendência de moda de praia", explica Amir. No primeiro ano de exportação, a Rosa Chá ampliou as modelagens dos microscópicos biquínis brasileiros para o tamanho G das americanas. "Mas temos sentido que o modelo brasileiro está predominando. Este ano todos os pedidos dos Estados Unidos foram feitos no tamanho original."
Está aí um dos efeitos da globalização, diz Amir. O Brasil hoje está voltado para os seios. Já as americanas estão em busca de peças que chamem atenção para o bumbum. "É uma troca de valores e uma uniformização do padrão de beleza. A mulher deixou de ser apenas um seio bonito ou um bumbum bonito. O corpo inteiro está em alta." A julgar pelos modelos que desfilaram em Nova York, põe alta nisso.
[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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