Demitido? Festa!
30.maio.2001
Tania Menai, de Nova York
A Internet pode não estar lá muito bem das pernas, com todas as dificuldades de empresas ponto-com, mas uma coisa não mudou: a vocação para fazer festas. É claro que já não são aquelas centenas de festas promovidas no ano passado, em que se esbarrava em capitalistas de risco de um lado e bandejas de champanhe do outro. A mais nova moda em Nova York são as festas dos descaradamente demitidos da Sillicon Alley (alameda do Silício), o mundo ponto-com nova-iorquino. A idéia veio do Vale do Silício, na Califórnia. São as Pink Slip Parties (pink slip, em inglês, significa bilhete rosa, uma metáfora para aviso de demissão).
Em Manhattan, Internet é coisa do passado. Trabalhar em empresas online é brega. Estar no olho da rua é chique. Mas fino mesmo é ter o nome de sua empresa falida listada em sites como FuckedCompany.com (cuja tradução é, digamos, companhia ferrada). As festas mais famosas são promovidas todas as últimas quartas-feiras do mês pela consultoria The Hired Guns, onde pulseirinhas são obrigatórias: desempregados são identificados pelas cor-de-rosa, o pessoal de recursos humanos usa as verdes e os simpatizantes, sempre com ouvidos abertos e ombros amigos, colocam as azuis. A próxima festa, no dia 30 de maio, tem nome: We’re not gonna take it (Não vamos aceitar esta situação).
Bebida liberada, nem pensar. Para quem ainda pode pagar, uma cerveja custa três dólares. "Nas filas das agências de empregos, 85% das pessoas são trabalhadores com menos preparo. O resto tem cabelo azul e rosa - são todos da Sillicon Alley", diz o carioca Robin Schumer, de 29 anos. Vítima do arrastão virtual, ele já foi gerente de recursos humanos da Starmedia de Nova York e recentemente foi e-demitido de uma outra empresa de Internet. Com documento de imigração em dia, Schumer recebe um seguro-desemprego de 405 dólares por semana. Não seria mal, se não fosse o aluguel em Nova York. A mamata vale por 26 semanas. Depois disso, quem continuar desempregado deve provar ao governo que buscou trabalho e não encontrou. Freqüentador de carteirinha das tais festas, Schumer está soltando seus currículos no mercado. Mas avisa: "Não para empresas de Internet".
[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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