Ela é Calvin
08.agosto.2001
Tania Menai, de Nova York
A paulistana Bia Martinez, 32 anos, não desfila em passarelas, nem posa para outdoors. Mas sem ela a marca Calvin Klein não seria a mesma. Com mestrado em design têxtil pela Philadelphia College of Textiles and Science, foi ela a responsável pela implementação e manutenção da tecnologia no processo de criação de design têxtil na sede da empresa, em Nova York, onde trabalha há quatro anos. O objetivo foi casar o conhecimento e a criatividade do profissional têxtil - um técnico que domina malharia, estamparia, tecelagem e produção, além de conhecer as limitações do processo de manufatura de tecido - com um ambiente de criação de moda. "Meu trabalho é minimizar o tempo, e, conseqüentemente, o custo de criação e de produção das peças", diz Bia. A partir do momento que um tecido começa a ser criado, seja uma estampa, seja uma trama, os designers já têm as especificação técnicas em mente. Dessa maneira, os desenhos aprovados nas design houses em Nova York já estão prontos para ser produzidos.
"Foi ótimo ver de perto os benefícios que o processo trouxe para a Calvin Klein nos últimos quatro anos", afirma. Segundo Bia, o sistema foi implementado em todas as divisões de design da empresa: sportswear (linha de jeans, masculina, feminina, infantil e juniores), underwear, linha de praia, acessórios e collection, a mais cara da marca.
Formada em Artes Plásticas na USP, Bia supervisiona todo o processo de criação e execução têxtil, em estamparia, tecelagem e malharia, além do trabalho de dez designers têxteis espalhados pelas diversas áreas criativas. Resultados mostram que os processos da criação à produção diminuíram em até quatro semanas, sem falar nos custos de produção e de peças piloto. "Programas de softwares nos permitem visualizar as peças antes de serem colocadas em produção", afirma. "Vejo muitos profissionais da área de design com domínio em computador, mas sem know-how de design. O mercado hoje pede habilidade nas duas áreas."
Com escritórios satélites em cidades como Milão, Paris e Hong Kong, a Calvin Klein, criada em 1968, sofreu uma reestruturação no final de maio que resultou na demissão de cerca de 100 funcionários. Hoje, a empresa tem 750 profissionais (650 trabalham em Nova York) e fatura anualmente 5 bilhões de dólares em varejo, com licenciamento de produtos vendidos internacionalmente em mais de 40 lojas. Entre as marcas que levam o nome de um só designer, a Calvin Klein só perde para a Ralph Lauren no mercado mundial - outras marcas ficam atrás com uma média de 1 bilhão de dólares em vendas anuais.
"Meu maior privilégio é trabalhar diretamente com o Calvin Klein", diz Bia, que foi promovida pelo próprio empresário. Além de ser a única brasileira na Calvin Klein, Bia também estará representando o Brasil em setembro numa exposição organizada pela renomada Parsons School of Design, em Nova York, ao lado de outros 12 designers internacionais selecionados. Todos eles estão inovando na área de tecnologia em design têxtil. Bia vai mostrar o uso da técnica jacquard nas áreas de decoração e moda. "A convergência entre os dois setores é cada vez mais forte", diz ela. Isso é interessante pois a Calvin Klein também desenvolve uma linha para casa", diz ela. O tecido foi desenvolvido todo no computador, com teares eletrônicos e acabamento feito na própria estruturação do tecido, em vez de corte e costura.
No Brasil, Bia participa de um projeto ainda a ser aprovado: a elaboração de um laboratório computadorizado em design têxtil para o curso de estilismo e moda da Universidade Federal do Ceará. A idéia é fazer uma parceria com a indústria local, nas áreas de pesquisa, desenvolvimento e atração de novos talentos. "Devemos criar uma mão-de-obra qualificada no Brasil", diz Bia, que pretende dar consultoria para empresas brasileiras.
[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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