A hora da reconstrução
06.agosto.2002
Nova York discute como reerguer a economia da área destruída pelos atentados
Por Tania Menai
Poucas semanas depois da retirada de uma viga de aço com 9 metros de altura, a última a permanecer de pé após os atentados terroristas contra as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, foi aberta a temporada oficial de discussões para decidir o que fazer naquele espaço. Um memorial? Um museu? Novas torres? Um shopping center? Um misto disso tudo?
As dúvidas transcendem as discussões da área de arquitetura e urbanismo. Trata-se de uma questão sobre como revitalizar economicamente toda a parte sul da ilha de Manhattan, um espaço onde a maioria dos negócios girava em torno do World Trade Center. As explosões deixaram mais que um saldo de 2 823 mortos e uma área vazia de 64 000 metros quadrados. Só as duas torres principais tinham 110 andares de escritórios que faziam parte de um complexo que abrigava 50 000 funcionários de 400 empresas. Tudo isso, incluindo os negócios que ali orbitavam, foi atingido. O que se discute agora é como reativar o lugar e, ao mesmo tempo, preservar a memória dos acontecimentos terríveis que ocorreram ali.
De um lado da discussão estão os que, como o prefeito Michael Bloomberg, acreditam na necessidade de retomar a vocação econômica do lugar, construindo novos espaços comerciais. Do outro estão os que vêem nisso um ultraje à memória das vítimas da tragédia. Desse lado estão, por exemplo, George Pataki, governador de Nova York, e a maioria dos familiares das vítimas. Esse pessoal defende que no local do World Trade Center seja erguido apenas um memorial.
Há duas semanas, o Port Authority, a agência governamental responsável pela área, e o Lower Manhattan Development Corporation (LMDC), organização criada pelo governo Pataki para reconstruir a região, apresentaram ao público seis propostas de projetos orçados em até 2 bilhões de dólares cada um (veja detalhes dos projetos ao lado). Todas trazem espaços comerciais, culturais, de lazer, hotéis e um memorial. Houve descontentamento dos dois lados. "Essas propostas são apenas o pontapé inicial de uma longa discussão", diz Bloomberg, que tem até o fim do ano para se decidir por uma das propostas. Até lá será promovido um concurso internacional para escolher um memorial, a ser incluído na proposta vencedora. E, nesta semana, o governo e o LMDC abriram a possibilidade de que outros escritórios de arquitetura apresentem suas idéias. A reconstrução deve ser viabilizada em parte com o reembolso do seguro das propriedades destruídas. Outra parte deve vir dos 21 bilhões de dólares que o presidente George Bush prometeu à cidade de Nova York. Essa verba federal precisa ainda ser aprovada pelo executivo americano e pelo Congresso. "O objetivo do atentado ao World Trade Center foi atacar a nossa economia", diz Paul Goldberger, crítico de arquitetura da revista New Yorker. "Por isso é importante que, além do memorial, espaços comerciais sejam erguidos para simbolizar a restauração dessa área."
1. MEMORIAL PLAZA. Esta proposta apresenta uma praça com um memorial e um centro cultural numa área de 73 000 metros quadrados de novos espaços públicos, incluindo parques, ruas e um grande calçadão em direção ao Battery Park e à balsa que leva à Estátua da Liberdade. São cinco as torres: uma de 79 andares, duas de 67 andares e duas de 62 andares. No topo da torre mais alta projetou-se uma antena de 457 metros de altura. Reservou-se ainda um espaço para um possível desenvolvimento residencial.
2. MEMORIAL SQUARE. Foi criada uma praça de 40 000 metros quadrados circundada por uma arena em diversos níveis, que conecta o público a lojas e sistemas de transporte. Quatro torres (uma de 80 andares, duas de 70 e uma de 56 andares) foram reservadas para escritórios e hotéis. As coberturas dos prédios mais baixos são conectadas por uma passarela contínua que circunda a praça, criando um nível superior de espaço público aberto. A torre mais alta tem uma antena. Foi previsto um espaço cultural com parques nas redondezas, além de um calçadão.
3. MEMORIAL TRIANGLE. Este conceito tem um espaço triangular aberto num total de 53 000 metros quadrados de espaço público, que inclui um pavilhão central que dá acesso ao memorial, ao museu e à parte subterrânea onde circula o transporte público. Seis torres foram projetadas: uma de 85 andares, uma de 61 andares e quatro de 59 andares. A mais alta teria um marco de 457 metros de altura. Ainda foi previsto um deck elevado para o público, além de projetos para um condomínio residencial.
4. MEMORIAL GARDEN. São 16 000 metros quadrados de área aberta com um memorial ou espaço para atividades culturais, incluindo um museu na parte sul. O total de espaço público é de 28 000 metros quadrados, com algumas passarelas cobertas interligando os diferentes prédios. Os escritórios e os espaços comerciais ocupariam cinco torres, uma de 80 andares, duas de 66 e duas de 55. A mais alta teria uma antena do mesmo tamanho da criada no projeto Memorial Triangle e do Memorial Plaza. Uma área foi reservada para uma possível construção de prédios residenciais.
5. MEMORIAL PARK. A planta traz cinco torres -- duas de 72 andares (sendo que uma delas teria uma antena de 457 metros de altura) e as outras três de 45 andares. Elas circundariam um espaço aberto de 24 000 metros quadrados onde ficaria um memorial. O projeto tem uma área total de 58 000 metros quadrados e inclui novas ruas, extensão de algumas já existentes e um possível espaço residencial. Tudo isso exigiria a aquisição de parte da praça que hoje pertence ao prédio do Deutsche Bank, além de um estacionamento nas proximidades.
6. MEMORIAL PROMENADE. Um parque oval foi projetado no meio de seis torres (duas de 63 andares e quatro de 32 andares) numa área total de 112 000 metros quadrados. O memorial e os centros culturais ficaram do lado oeste do parque e a parte residencial, mais ao sul. As torres mais altas teriam uma antena cada uma, novas ruas seriam criadas e um grande calçadão ligaria o local ao sul da ilha, com acesso direto à balsa que leva à Estátua da Liberdade.
[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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