McDonaldização da economia
10.janeiro.2001
Tania Menai
No ano 2000, os americanos entupiram mais o estômago do que a mente: 110 bilhões de dólares foram despejados em fast food - mais do que em educação superior, computadores pessoais e carros novos. Mais do que em cinema, livros, revistas, jornais, vídeos e CDs juntos.
De 1970 para cá, os gastos com alimentação a jato por habitante triplicaram. (E os habitantes também deram uma crescida - para os lados). Há 30 anos, eram gastos 6 bilhões de dólares com fast food (cerca de 27 bilhões de hoje, corrigindo pela inflação acumulada), para uma população de 203 milhões. Hoje são 110 bilhões de dólares, para 276 milhões de pessoas.
Fast food é hoje vendida em aeroportos, museus, postos de gasolina e até hospitais. Além de transformar a dieta americana, essa comida rápida mudou o cenário da mão-de-obra, da economia e homogeneizou a cultura popular, diz o influente jornalista Eric Schlosser, autor de Fast Food Nation (A Nação da Comida Rápida), livro a ser lançado em janeiro.
Isso não é só coisa de gringo, adverte Schlosser. Em Meca, na Arábia Saudita, cidade sagrada para os muçulmanos, o Kentucky Fried Chicken bateu o recorde de vendas e faturou 200 000 dólares, na semana do Ramadã, jejum religioso.
Com um apurado faro para investigação e batatas fritas, Schlosser analisou minuciosamente as causas e efeitos da comida rápida nos Estados Unidos e no mundo. Segundo ele, o que as pessoas comem, ou não comem, determina a maneira como a sociedade interage, suas forças econômicas e tecnológicas.
Nos Estados Unidos, em qualquer dia do ano, um quarto da população visita uma lanchonete. Em 1968, o McDonald’s operava cerca de 1 000 restaurantes no país. Hoje, são 28 000 no planeta. A cada ano, pipocam mais 2000 lojas. Uma estimativa aponta que, de cada oito trabalhadores americanos, um já foi empregado pelo McDonald’s em alguma época da vida.
Não são só as pessoas que ficaram viciadas em comida rápida, diz Schlosser. As empresas também. A "mcdonaldização" no mundo dos negócios pode ser vista na centralização das decisões de compra nas grandes cadeias de restaurantes e na demanda por uma padronização. Cada vez mais, a uniformidade - fórmula mágica do setor de comida rápida - tem sido copiada pelas demais indústrias, principalmente no sistema de operações da economia de varejo. "Ela varre do mapa o pequeno comerciante, apaga as diferenças regionais e faz proliferar lojas idênticas em qualquer esquina do país."
Segundo Schlosser, os Estados Unidos são o país do serviço padronizado e do sorriso falso, onde tudo tem a mesma cara: de nada. Mesmo numa cidade como Nova York, com 25 000 restaurantes das mais exóticas nacionalidades, um turista preguiçoso e faminto acaba se rendendo ao McDonald’s por se sentir confortável com a marca. É esta a armadilha: "Nos aproveitamos dos conformistas com pressa", afirmou Ray Kroc, um dos fundadores do império.
Hoje o McDonald’s é a marca que mais frita verba em propaganda e promoção, passou a Coca-Cola em popularidade, é o maior operador de playgrounds e o maior distribuidor de brinquedos dos Estados Unidos. Uma pesquisa conduzida com crianças de escolas americanas apontou que 96% reconhecem o personagem Ronald McDonald. O palhaço só perdeu para um tal de Papai Noel, que, aliás, também é um bocado obeso.
- Tania Menai, que não come hambúrguer, de Nova York
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