Todo mundo foi
21.maio.2001
Chuck Close declarou-se um péssimo fisionomista, além de preguiçoso, impaciente e vítima de Síndrome do Déficit de Atenção. Tom Freston disse que os Backstreet Boys são ‘legaizinhos’, mas confessou que só escuta jazz e música estrangeira. O chinês Ang Lee contou que recentemente dirigiu um comercial para a BMW. Mas para não queimar o filme (literalmente) prefere chamá-lo de “curta”. Close é um dos mais consagrados pintores e fotógrafos contemporâneos dos Estados Unidos, cujos megaportraits ocuparam as galerias do MoMA numa retrospectiva de sua carreira, em 1998. Freston é o fundador e CEO da MTV Networks . E Lee é o diretor do filme ‘O Tigre e o Dragão’, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro este ano. Ouvir depoimentos como estes foi privilégio das seletíssimas platéias que lotaram, no último fim-de-semana, os 50 eventos literários do New Yorker Festival , promovido pela revista xodó da ala intelectual da cidade.
Em maio do ano passado, a New Yorker soprou 75 velinhas. Para comemorar, chamou diversos escritores, cineastas e artistas para dar entrevistas ao vivo aos seus jornalistas perante platéias de leitores espalhadas pela cidade. Ignorou-se as estrelas do mundo pontocom – o público da New Yorker, publicação que só se rendeu ao mundo virtual há poucos meses, não está nem aí para emergentes. Assim que o festival foi anunciado, discretamente nas páginas da revista e nas livrarias Barnes & Noble, os ingressos voaram. O sucesso foi tanto, que este ano a revista repetiu a dose. Os turistas-consumistas não repararam, mas até as vitrines da Sacks Fith Avenue foram decoradas com a capa da revista. De sexta a domingo, a New Yorker invadiu os lugares mais sofisticados de Manhattan – incluindo os clubes privês Yale e Princeton, a Morgan Library , o restaurante Les Halles e o SFA Café - com palestras simultâneas. O estilo do público é aquele mesmo que se vê nas charges da revista – os “chiques-casuais”.
Escolher para onde ir foi uma tortura mental. “Olha gente, enquanto eu entrevisto Ang Lee, está rolando poesia grátis no Bryant Park com os escritores como April Bernard, Jorie Graham e Donald Hall”, disse David Denby, crítico de cinema da New Yorker. Hmmmm...seria melhor assistir Woody Allen ser entrevistado pelo editor da revista, David Remnick, ou ver de perto a repórter da CNN Christiane Amanpour debater jornalismo numa mesa redonda? Ouvir Malcolm Gladwell, escritor da New Yorker, falar de seu livro “The Tipping Point” ou Anthony Lane, crítico de cinema da revista, discutir sobre a linguagem ‘engraçada’ nos filmes? Presenciar a estilista Stella McCartney, filha de Paul, opinando sobre moda ou o ator Steven Martin ser entrevistado por Adam Godnik, jornalista de cultura? Um brunch com os cartunistas da revista ou ver D.L. Hughley, craque em stand-up comedy, falar sobre o humor nos Estados Unidos ?
O menu inclui ainda uma bela programação noturna. Na sexta, o papo com o dramaturgo August Wilson, vencedor de um Pulitzer Prize pelas peças da Broadway “The Piano Lesson” e “Fence”, foi seguido de uma performance de sua nova obra, “King Hedley II”. No sábado, por exemplo, aconteceu um debate beneficente para uma associação de escritores, dramaturgos e poetas vítimas de censura, reunindo a cantora Tracy Chapman com escritores e atores para debater a obra de Bob Dylan. Logo depois, uma esticadinha na festa “Alta Fidelidade”. Pilotando a vitrola, ninguém menos do que o ‘DJ’ britânico Nick Hornby, autor do livro que deu nome ao filme e à festa. Quem tiver programa melhor, envie cartas para a redação – da New Yorker.
[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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