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Depois do Furacão
07.novembro.2005
Tania Menai, de Nova Orleans
07.11.2005 | “Beignets estão de volta” - diz o gigante cartaz em frente ao Café du Monde, a mais tradicional lanchonete de Nova Orleans, aberta 24 horas no French Quarter, bairro turístico da cidade. Aqui, as pessoas disputavam mesas para comer o único item do menu: o tal beignet (pronuncia-se benhê), um tipo de sonho sem recheio, acompanhado por café com leite ou suco de laranja. Hoje, sobram mesas vazias,mas a reabertura do Café du Monde, no final de outubro, é um indício de que Nova Orleans, que há pouco mais de dois meses contava com 500 mil habitantes, está-se levantando depois de enfrentar o furacão Katrina. A maior tragédia natural já vista nos Estados Unidos destruiu inteiramente grande parte de seus bairros, matou cerca de 1.200 pessoas e expulsou mais de 100 mil. Nova Orleans perdeu um quinto de sua gente – e hoje este é dos seus principais problemas. Esta cidade portuária, berço do jazz, minguou e agora procura mão-de-obra – desesperadamente – para a sua reconstrução.
Nova Orleans atraía anualmente 10 milhões de visitantes que injetavam 9 bilhões de dólares em sua economia e geravam 85 mil empregos no setor de turismo. Charmosa e romântica, a cidade só perdia para Las Vegas como destino nacional para casamentos e luas-de-mel. Hoje, o aeroporto Louis Armstrong está tão vazio que utiliza apenas uma tela de seus 10 televisores para anunciar as chegadas e partidas. Com a escassez de opções, os vôos estão lotados. A JetBlue, tida como a melhor companhia aérea doméstica dos EUA, voltou a voar para Nova Orleans há um mês, mantendo apenas um de seus três vôos ida-e-volta diários. A empresa ainda conta com todos os seus 44 funcionários locais, alguns alojados em moradia temporária, mas é uma exceção no setor. Exceto por uma lanchonete e uma loja de revistas, todo o comércio do aeroporto continua fechado, incluindo as lojas de grandes marcas. Não há sequer seguranças suficientes para a área de vistoria de bagagens.
Quando se sobrevoa a cidade, a vista é tomada por casas cobertas de azul pois os telhados quebrados foram e continuam cobertos por plásticos. No entanto, por incrível que pareça, sente-se mais otimismo do que frustração na conversa com os moradores que continuam na cidade. Nova Orleans, por onde historicamente já passaram franceses, espanhóis e haitianos, é uma das cidades mais amadas dos Estados Unidos - e isso conta pontos na hora de recuperá-la após uma catástrofe de tamanha proporção. Mais de um bilhão de dólares em doações voaram para cá – ajuda que só se viu em igual proporção depois que Nova York sofreu os ataques terroristas de 11 de setembro. E, ao contrário do resto do país, onde as pessoas mudam facilmente de cidade, quem é de Nova Orleans tende a ficar. A cidade agrega gerações de famílias e comunidades em que as pessoas se conhecem pelo nome. Todos os moradores sabem que a cidade levará anos – uns dizem cinco, outros dez, outros até quinze – para se renovar e certamente não mais será a mesma.
Na tentativa de reaquecer a vida empresarial, “The Times-Picayune” - jornal local que, até a semana passada, ainda estava operando fora de sua sede - lançou um encarte em inglês e espanhol dedicado a ofertas de trabalho. Alguns anunciantes imploram por currículos. Vêem-se anúncios da Pepsi America, da United Parcel Service (UPS), do Sheraton New Orleans, do Holiday Inn, do Exxon e até do próprio jornal. O Esplanade Mall, shopping local, procura seguranças e faxineiras. O FedEx, em anúncio de página inteira, oferece empregos de balconista (10,87 dólares a hora) e entregadores (13,52 dólares a hora). Os interessados deveriam comparecer a um hotel Holiday Inn de uma cidade vizinha, com o currículo na mão, em hora e data agendada. O Marriot oferece empregos em cinco hotéis da rede na região e The Home Depot, cadeia de megalojas de construção e objetos de casa, chegou a criar um link em seu site em busca de pessoal - de gerentes a entregadores. Um trabalhador especializado em construção civil, que ganhava entre 8 e 9 dólares por hora, passou a valer de 14 a 16 dólares depois do Katrina.
French Quarter: começo e recomeço
O French Quarter, bairro que começa a recuperar os sinais de vida, é a alma da cidade. O aluguel de uma casa de um quarto neste pequeno bairro pode custar algo em torno de 1300 dólares. Foi aqui que Nova Orleans nasceu, desenhada por um arquiteto francês que desembarcou na região em 1722. Por ter sido o primeiro bairro, o French Quarter foi construído na área mais alta. A expansão posterior da cidade se deu nas regiões mais baixas – e conseqüentemente, mais alagáveis. Em 1945 a cidade tinha 173 quilômetros de canais (em Veneza, somam-se 45). Alguns destes canais foram aterrados – tanto, que uma das principais ruas chama-se Canal Street. Nova Orleans é rodeada por água, protegida por barragens – e fica poucos metros abaixo do nível do mar. Algumas das barragens, desgastadas, foram incapazes de resistir à força do Katrina, um furacão de categoria 4 (numa escala até 5) que chegou varrendo a cidade a 185 quilômetros por hora. As barragens estouraram. E deu no que deu.
Assim, é mais fácil compreender por que o French Quarter – que abriga dezenas de restaurantes, alguns cinco estrelas, inúmeras galerias de arte, músicos nas calçadas e a lendária Bourbon Street - está voltando lentamente à vida normal (apesar de estragos e inundações) enquanto o resto da cidade não sabe por onde recomeçar. “Minha casa não sofreu um arranhão”, diz Rose, uma brasileira que mora em Nova York, mas mantém uma casa no bairro. “Meus inquilinos perderam o trabalho e não vão poder mais alugá-la. Vim aqui para arrumar outros”, informa.
Nas pequenas ruas, cujas placas indicam os nomes em inglês, francês e espanhol (até 1803, a língua oficial era o espanhol; e até 1921, o francês), o que mais se vê são abraços de reencontros e cenas inesperadas como um pintor local, que não arredou o pé de sua casa durante o furacão. “Furacões são anunciados, terremotos não. Estes, sim, são problema”, alega. Numa manhã, ele pintava a Charter Street sem alma viva na calçada. Disse que adora aquela tranqüilidade e concordou com o comentário de que seu quadro lembra “Early Sunday Morning”, obra do pintor Edward Hopper (1882-1967), que retratou os anos da depressão americana, na década de 30.
Ainda assim, vêem-se cartazes escritos “open” e gente panfletando serviços turísticos, como a volta dos passeios históricos pelo bairros e pelos engenhos das redondezas, os museus de vodu e até mesmo, quem diria, o “tour fantasma”, conduzido todas as noites por atores e que, ironicamente, já existia antes mesmo de Nova Orleans assumir esses ares de... uma cidade fantasma.
Assim como os demais estabelecimentos do bairro, o Café du Monde, que fica à beira do rio Mississipi, colocou um aviso na porta – procurando pessoal. “Dos 50 garçons que tínhamos, apenas 15 foram capazes de voltar ao trabalho; sem contar cozinheiros e gente para lavar a louça. Precisamos de tudo isso”, conta Patrick, um jovem francês que serve beignets há cinco anos. Uma das novas garçonetes é Torry, nova-iorquina de 24 anos, que largou a carreira de enfermeira e mudou-se para Nova Orleans há apenas uma semana. “Sempre quis morar aqui. E esta é a melhor oportunidade. Consegui emprego em um dia”, conta ela, que está morando temporariamente na casa de amigos.
Croissant D’Or, pâtisserie do chef francês Gérard Marchal também reabriu há duas semanas e está em busca de novos empregados. “Reabrimos com cinco dos nossos 15 funcionários. Isso nos permite operar apenas até as duas da tarde”, diz Rose, casada com Gerard. Enquanto serve um croissant de espinafre, ela revela que cadeias como McDonalds e Burger King estão oferecendo bônus de até 2 mil dólares para atrair novos funcionários. “Isso é injusto com os restaurantes locais. Não podemos competir com gigantes - muitos de nós vamos falir”, lamenta. Quanto dinheiro eles perderam durante os dois meses em que estiveram fechados? “Foi tanto que é melhor mudar de assunto”, responde ela.
“Há gente jogando cartões de visita pela fresta da porta para dizer que está de volta e disponível”, diz Dickie Brennan, dono do Bourbon House, do Seafood Straight Up e do Dickie Brennan’s Steak House que fazem parte da tradicional rede de 12 restaurantes de sua família – igualmente conhecida pelas receitas reunidas no livro “Breakfast at Brennan’s”. Dickie ficou famoso pela atitude que tomou na catástrofe: garantiu o emprego de todos os seus 450 funcionários, com salário integral. “Muitos ainda estão fora da cidade, mas não estou contratando ninguém para substituí-los”, conta. “Espero ansioso a volta de todos”, diz, sentado à mesa do Bourbon House, com quase todos os 300 lugares tomados numa noite de quinta-feira. Hoje, ele conta com 100 funcionários novamente em atividade e 150 prontos para retornar em breve. Os demais ainda arquitetam a volta ao trabalho, sem saber exatamente como farão. E os outros dois restaurantes? “A água invadiu os porões. Terei de reformá-los”, responde Dickie, que, antes do furacão, levou a esposa e dois filhos para Baton Rouge, capital da Louisiana. “Eles ainda estão por lá, pois conseguimos uma escola na região.”
Reservas para o carnaval
Famílias com crianças são as mais resistentes a voltar logo para Nova Orleans. O Katrina invadiu a cidade no começo do ano letivo – e quem arrumou escolas nas regiões satélites, acabou ficando. Segundo uma estatística dos correios, Houston, no Texas, foi a cidade que mais recebeu os habitantes evacuados de Nova Orleans. Mais de 31 mil moradores requisitaram a troca de endereços para lá. “Tentamos entregar o máximo de correspondência em Nova Orleans, mas, quando nos deparamos com uma casa abandonada por mais de dez dias, seguimos a regra dos correios: devolvemos ao remetente”, conta um carteiro enquanto circula pelo French Quarter.
E, se depender dos proprietários de imóveis, a volta dos moradores não acontecerá tão cedo: sem qualquer piedade, os aluguéis da cidade deram um salto astronômico e acabarão por expulsar de casa até quem não foi diretamente afetado pelo furacão. Voluntários, carpinteiros, bombeiros, policiais, construtores e jornalistas fazem o movimento de hoje no bairro turístico. “Vim de Chicago para trabalhar de guarda particular para que este hotel não seja saqueado antes de reabrir”, explica Willie, que já está na cidade há seis semanas. Os hotéis que voltaram a funcionar - cerca de 30 - estão hospedando trabalhadores - muitos alugam quartos por semanas ou meses.
É comum ver hotéis operando com apenas 50% ou 60% da capacidade. O Place d’Armes, por exemplo, avisa de antemão que não oferece troca de roupa de cama e toalha. Não há camareiras para tanto. O hotel tem abrigado profissionais da FEMA (órgão governamental que lida com emergências e catástrofes), de empresas de construção, jornalistas e até mesmo os funcionários sem-teto do Museu Louisiana, vizinho ao hotel. Turistas? Por enquanto, nenhum. Alguns hotéis garantem, porém, que já têm reservas para grupos que não abrirão mão do Mardi Grãs (o carnaval de Nova Orleans) em fevereiro.
“Nunca fomos muito engajados politicamente, mas, depois desse furacão, vejo as pessoas mais ativas”, reconhece Storme O’Keefe, dona de uma floricultura na Royal Street. De volta ao trabalho há duas semanas, ela diz que vendeu muitas flores para funerais. “Por outro lado, muita gente tem enviado flores como agradecimento. As pessoas se ajudam bastante”, acrescenta. Frederick Guess, pintor que mantém uma galeria na mesma rua, voltou a trabalhar há sete dias – e já fez bons negócios. “Vendi bastante para voluntários da Cruz Vermelha”, afirma. E esta será a clientela por um bom tempo. Bons exemplos são Diana Panzarino, da Carolina do Sul, e Judy Polkey, de Iowa, que deixaram suas famílias e se alistaram à Cruz Vermelha para trabalhar com famílias carentes que até hoje vivem em abrigos.
Mesmo sem clientes, muitos pequenos empresários tentam o retorno imediato ao trabalho. “Este mês não teremos dinheiro para pagar a conta de luz, mas fizemos questão de reabrir poucos dias depois do furacão. Fomos uns dos primeiros”, conta Mike Davis, dono da loja Konriko, de ingredientes culinários típicos da região. “Estamos trabalhando de graça.” O sentimento é compartilhado por Maggie Mae, da loja MargaritaVille. “Nem tenho mais casa, mas, se eu não voltasse a trabalhar, iria à loucura”, justifica ela.
A ordem é esquecer os mortos
“Esta foi uma tragédia democrática”, diz Gregory Free, arquiteto texano especializado em restauração, que veio à cidade para dar consultoria. “Ela afetou tanto um bairro nobre como o Lakeview quanto um bairro pobre, paupérrimo, como o Ninth Ward.” É verdade. Num passeio de carro pelas duas áreas, não dá para enxergar a diferença entre o bairro rico e o pobre. Em ambos, o mundo acabou.
Nestas áreas fantasmas da cidade, o toque de recolher vai das oito da noite às seis da manhã. Os ônibus usados para saquear supermercados ainda estão abandonados nas ruas. Todas as casas estão pichadas com números e códigos pelas equipes de resgate que por ali passaram em busca de vítimas. Vêem-se árvores imensas arrancadas do chão, casas tortas que lembram as obras de Chaim Soutine, pintor lituano-francês que via o mundo em linhas tortas. Carros esfacelados, sofás, cadeirões, bichos de pelúcia amontoados em lixo representam vidas inteiras nas calçadas. Não há luz elétrica nem água potável. Geladeiras e mais geladeiras nas calçadas indicam que os donos das respectivas casas já estiveram ali – e se livraram delas. Todas apodreceram. Há quem calcule que o número de geladeiras, congeladores e aparelhos de ar-condicionado a serem recolhidos pelas ruas da cidade chegue a 300 mil. Algumas geladeiras – que também fazem parte do cenário no French Quarter - nem chegaram a ser limpas. Foram apenas fechadas com fitas adesivas. Outras viraram murais para recados nada simpáticos a políticos e frases como: “Não abra até o Dia das Bruxas”.
No meio do caos, placas e mais placas oferecem serviços para retirar carpetes, reformar telhados, arrancar papéis-de-parede, cortar árvores. Ao telefonar para alguns deles, nota-se a atual situação da cidade: muitos trabalhadores vieram de outros estados em busca de trabalho e cobram até 30 dólares por metro quadrado para retirar tapetes. “Uma casa de dois andares tem pelo menos uns 200 metros quadrados”, diz Drew, que veio da Carolina do Norte e cobra 25 dólares por metro quadrado. Até agora, ele já trabalhou em três casas. Mas há quem não goste dos novatos. “Acho injusto as pessoas de fora da cidade virem para cá, alugarem números de telefones locais e cobrarem o dobro do que cobramos pelo serviço”, diz Mike, nascido e criado em Nova Orleans. “Cobro 10 dólares por metro quadrado porque sei que as pessoas estão passando por dificuldade, ninguém tem emprego fora daqui”. Junto com amigos, ele já trabalhou em 14 casas.
Trabalho também não faltará para a empresa Sequoia, que reforma cercas. “Tenho recebido dezenas de telefonemas de clientes que se mudaram para outras cidades. Eles me dão o número de seus cartões de crédito pelo telefone, e eu reformo suas casas”, diz Gary Haab, dono da empresa, que também recebe mais de cem telefonemas por dia de gente em busca de emprego. “É muito duro entrar nas casas e ver fotos de casamentos e outros momentos felizes”, lamenta.
O carpinteiro Dan Lusky é outro com a agenda lotada. Tem trabalhado até 12 horas por dia limpando casas, retirando papéis-de-parede mofados, reformando tetos. Até agora, já cuidou de dez delas. Mas Dan viu coisa pior. No dia seguinte ao furacão, ele pegou um bote emprestado e navegou pelo Ninth Ward, epicentro da catástrofe, para puxar pessoas da água e de suas residências. Salvou cerca de 300 pessoas. Só se abateu na hora em que um homem lhe pediu que fosse até sua casa resgatar a mãe. E avisou: ela está morta. “Fui proibido de pegá-la – a ordem dos oficiais era para se preocupar apenas com os vivos”, relembra Dan.
Música na Bourbon Street
Apesar de toda a tragédia vivida por Nova Orleans, quem caminha pela Bourbon Street à noite pensa que nada aconteceu. Nos bares, bandas de jazz e de rock se apresentam com o som nas alturas. Respeitando o toque de recolher no French Quarter, entre duas e seis da manhã, há quem dance, cante e beba, inclusive, a famosa Hurricane - uma mistura vermelha de rum que derruba, literalmente, qualquer mortal.
As camisetas, tradicionalmente engraçadas e politicamente incorretas, já fazem piadas com a catástrofe. Uma delas debocha da ineficiência da FEMA, agência federal altamente criticada depois do furacão. A camiseta diz: “Federal Employees Missing Again” (em português, “Agentes federais em falta, novamente”). Outra camiseta faz um trocadilho sexualmente curioso em inglês: “Katrina gave me a blow job I’ll never forget” (em tradução livre, “Katrina me deu um sopro – trocadilho de sexo oral – que jamais esquecerei”). Casas de strip-tease funcionam à toda e não falta gente pra lá de Marrakesh pelas ruas.
Na verdade, todo esse burburinho é de gente que está na cidade a trabalho. Nada mais. A agitação é assistida por dezenas de policiais, alguns montados a cavalo, que garantem a diversão sem violência. Cem vieram do estado de Nova York e trabalham em turnos de quatro semanas. “Somos a segunda leva que vem de Nova York. Por enquanto, não vi nenhuma confusão”, diz um deles. “Pensei que 11 de setembro seria o auge da minha carreira, mas estou vendo que não é o caso”, acrescenta.
“Nem tudo voltou ao normal”, adverte o jornalista Thom Butler, que trocou São Francisco por Nova Orleans um mês antes do Katrina. “Acabo de chegar de um bar onde se recitavam poemas madrugada adentro”, conta ele, caminhando pela Bourbon Street. ”O sarau acabou às dez e todos os poemas citavam a catástrofe”, lamenta. Engajado no meio musical, Thom tentou localizar por e-mail mais de cem músicos da cidade depois do furacão. Só obteve resposta de seis. “Eles estão todos espalhados pelo país, mas a revista on line “Off-Beat” está fazendo um ótimo trabalho para reencontrá-los.”
Ainda assim, a agenda cultural tenta mostrar aos cidadãos da cidade e ao mundo que o furacão arrancou tudo, menos a alma de Nova Orlenas. No último sábado de outubro, aconteceu o Voodoo Music Fest, em que bandas locais tocaram exclusivamente para os bombeiros, voluntários e policiais das equipes de resgate. E Thom ainda enviou por e-mail, para esta reportagem, uma imensa lista com a programação cultural da cidade, acompanhada do seguinte recado: “Tania, com uma lista dessas, parece-me que você vai ter que ficar em Nova Orleans por mais uma semana!”
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[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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