A vingança virtual da mulher traída
30.março.2006
Tania Menai,de Nova York
30.03.2006 | “Nós nunca mentimos. Quando mentimos, é para o bem de vocês”, afirma o escritor Luis Fernando Veríssimo em sua obra “As Mentiras que os Homens Contam”, na qual uma das crônicas sugere a criação do Dia do Amante no calendário. Por bem ou por mal, essas mentiras masculinas são suficientes para justificar o sucesso meteórico do site americano Don’t Date Him, Girl.com (Não Namore com Ele, Garota!). Com apenas cinco meses , o site já possui mais de cinco mil usuárias cadastradas e um tráfego de 600 mil hits por dia. “Da mesma forma que o FBI mantém um site listando os sujeitos mais procurados, criamos arquivo de chifradores, para que ninguém perca tempo nestas relações”, diz Tasha Cavelle Joseph, criadora do site, a NoMínimo.
Agora, quando uma mulher conhecer um homem, e não apenas nos Estados Unidos, tem como saber, tintim por tintim, o seu passado. O site já disponibiliza o histórico de 1.500 chifradores internacionais, incluindo as respectivas fotos, o “passado criminal” e, pior, as “reincidências”. Mais dois mil nomes estão sendo adicionados gradualmente. Para relatar uma atrocidade conjugal, basta fazer login na página. E para achar um “elemento suspeito”, clica-se em Find a Cheater (Ache um Chifrador), digita-se o nome do belo e pronto: gratuitamente, a usuária pode descobrir se aquele nome é sinônimo de cafajeste. “Tentamos adicionar o máximo de nomes por dia – são muitos. Muitos mesmo” diz Tasha, que por sete anos assinou uma coluna no jornal “Miami Herald”, auxiliando pais a resolver os problemas escolares de seus filhos.
Aos 33 anos, Tasha diz que nunca adicionou ninguém à lista do site. “Por sorte”, diz ela “só fui chifrada uma vez – eu tinha 18 anos”. A jornalista, que vive em Miami, conta que hoje “namora um cara espetacular”. Ele apoia o site, levanta a bandeira da fidelidade, “e sabe bem onde vai parar caso pule a cerca”. A ficha técnica dos rapazes vem acompanhada de idade, etnia, peso, altura, cidade, nome completo e todos os xingamentos aplicáveis à situação.
Ilustres chifradores
Os Dons Juans são encontrados em todos os tamanhos, credos e cores: são negros, asiáticos, latinos, loiros, idosos, jovens, gordos, esquálidos, baixos, esguios, pobres, milionários, lindos e horrendos. Nas palavras de Tasha, trata-se de “uma coleção global de traidores”. Mas no fundo, como dita aquele sábio provérbio, eles são todos iguais. O que muda é o endereço.
Numa busca por ilustres chifradores americanos, por exemplo, encontramos Kobe Bryant, aquele jogador de basquete que chifrou a esposa e depois a presenteou com um anel de brilhantes equivalente ao tamanho de sua cara-de-pau. Já Bill Clinton, Brad Pitt e Rudy Giuliani passaram ilesos pelo pente-fino. Por enquanto.
Um caso menos notório, mas muito interessante, é o de Kevin Casey, que, aos 51 anos, ainda vive com a mamãe. Ele transforma a tal senhora em telefonista cada vez que não quer atender as namoradas traídas. Mas não há como segurar as mentiras, segundo uma ex-namorada: qualquer dos apetrechos de Kevin – celular, pager, computador – contém provas de traições.
Num outro relato, a ex-mulher de Karl Humper diz que a criatura ficou desempregada por dois anos. Ela comprava até os sapatos dele. No terceiro ano de casado, ele passou a dormir no sofá. Sempre destratou os filhos. Cada vez que ela chegava no quarto, ele fechava imediatamente a internet. Andava e misterioso. No aniversário de seis anos de casamento, ele pediu divórcio. E foi aí que ela gritou a frase do líder Martin Luther King, “Livre, finalmente!” E escreveu no site: “Senhoras, este homem é nojento. Adora pornografia – das mais grosseiras. Fiquem longe!”.
James Bastion é mais um nome devidamente listado em Don’t Date Him, Girl.com. Soldado do Exército, costuma dizer às titulares que está longe e sem acesso a meios de comunicação. Enquanto isso, diverte-se com uma aeromoça. Quando não está com ela, aproveita para correr atrás de outros rabos-de-saia.
Outro chifrador da longa lista: Scott Wielbick, que acaba de se mudar para a casa de sua nova vítima, em Vancouver, no Canadá. Antes, mantinha três relacionamentos simultâneos em Seattle. Encaixado na categoria dos “chifradores-em-série”, sua delatora avisa ainda que ele deve milhares de dólares em cartões de crédito e está em débito há anos com o imposto de renda.
O caso de Michael Sullivan, então, requer análise especial. O rapaz deixou sua mulher, com um bebê de colo, para casar com a amante. Depois de casado, passou a traí-la com outra amante. Engravidou esta amante. E ainda está com outra nas horas vagas. Acompanhou?
Delação anônima
Relatar dores-de-cotovelo e traições não deixa de ser uma catarse. Psicólogos defendem que colocar a raiva para fora é saudável. E uma vez que a lavagem de roupa suja fora de casa está liberada, a internet se transformou numa grande lavanderia. Haja sabão. Nos relatos de Don’t Date Him, Girl.com , muitas mulheres contam que descobriram seus companheiros anunciando suas próprias qualidades em sites de relacionamento, dizendo que são “solteiros e carentes”.
Ao delatar seus homens, quase todas mantêm o anonimato. Umas escrevem em tom de frio aviso. Outras, em letras maiúsculas, o equivalente a berrar na linguagem do mundo virtual, detonam: “Fique longe deste cachorro”. Ou: “Ele é um mentiroso patológico”. Algumas são prolixas: “Além de chifrador, mora com os pais e é falido. Me pediu dinheiro e saiu com outra! Não caia nesta ladainha!” Mais: “Esse aí chifra com as colegas do trabalho!” Não falta uma ponta de deboche: “Ele não é patológico, é patético!” Há quem apenas registre os fatos: “Eu estava namorando há quatro meses, quando uma mulher da Costa do Marfim chega ao meu escritório e se apresenta como a esposa – e mãe de dois filhos”.
Ainda assim, verdade seja dita: algumas histórias nos fazem questionar que tipo de mulher se encrenca com homens desses. Por exemplo: uma tal de Lisa conta que seu marido sempre a traiu, mas que ela perdeu o controle quando, durante sua quarta gravidez, ele saía com uma menina de 14 anos. O cavalheiro saiu de casa e mal vê os filhos.
De qualquer forma, os homens podem também enviar e-mails para o site, contando suas versões da história. Eles são postados ao lado dos depoimentos de suas (ex) mulheres. Em tempo: a versão masculina do site - Don’t Date Her, Man.com estará online na primeira semana de abril. “Estou curiosa para ver a repercussão”, diz Tasha.
Digitando sobrenomes brasileiros, como Santos, achamos alguns porto-riquenhos. Silva? Nenhum (note, porém, que o site só lida com traição a mulheres, e não “traição à nação”). Uma pesquisa geográfica por “Brazil” também não resultou em nada. Isso não significa que o país em questão seja habitado apenas por “santos”. A ausência de brasileiros neste site (até agora) tem a ver com a barreira de idiomas. Tanto, que as brasileiras já contam com recursos online em português, ainda que menos sofisticados. No Orkut, elas criaram comunidades como “Tá faltando homem que preste”, “As mentiras que eles contam”, “Eles mentem e a gente finge que acredita” ou “Homem que trai, o pipi cai”, esta com quase 246 mil adeptas.
“A denúncia de elementos como estes é uma contribuição ao bem-estar social. O Don’t Date Him, Girl é um instrumento saneador de uma epidemia”, proclama uma advogada paulista, que, assim como todas as outras, não quis se identificar, mas se diz chocada após ler alguns relatos. Tasha, por sua vez, não se apavora com mais nada, embora não se esqueça de uma história: “É de uma mulher que estava casada por 12 ou 13 anos, mãe de 2 filhos. Ela descobriu que seu marido a estava traindo por todos estes anos – com outro homem”, conta, ainda incrédula. E, pelo que se sabe, nem caubói o sujeito era.
[ copyright © 2004 by Tania Menai ]
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