Todas as reportagens

Outras reportagens de: no.com.br

- Oficialmente mortos
- Fuga sobre rodas
- Dia especialmente escolhido
- A caipirinha dos sarados
- Rudy, expulso de casa e sem herdeiro
- Paz no Oriente Médio
- Seda, perfume e sangue
- O quê, meu rei?
- Todo mundo foi
- O 'darling' brazuca
- O avesso da notícia
- Pulitzer em foco
- Vale a pena ver de novo
- Arte em série
- Músico incidental
- O Harlem não é mais aquele
- O Rio para inglês ver
- Fábrica de idéias
- Morte ronda o MIT
- Movimentos da intuição
- A bíblia da boa mesa em Nova York
- Os top de linha da mídia
- Eu, eu mesma, Luana
- Faro fino

Nova York, para sempre
17.março.2001

Tania Menai

NOVA YORK – Ele se chama José, mas é conhecido como Daniel. Ou seria Alan Daniel? É gaúcho, mas tira onda de carioca. Diz que morava na rua 125, em Manhattan. Mas seu endereço passava da rua 150. Se autointitulava estudante da Universidade Columbia. Mas trabalhava como auxiliar de garçom, servindo água e limpando mesas. Esse é o perfil nebuloso de Daniel Oliveria, 26 anos, nome que consta nos boletins da Corte Criminal do Estado de Nova York. Na segunda-feira passada, o brasileiro foi condenado à prisão perpétua por ter matado os americanos Angel Roman, de 51 anos e Roger Brooks, de 58. A lista variada de nomes que já usou e as versões múltiplas que apresenta para cada fato acabaram com suas chances de defesa. “Ele é um psicopata da mentira”, disse a no. um funcionário da Corte Criminal, que estava presente no julgamento do brasileiro.

Ambas as mortes aconteceram em 1997, em março e agosto, respectivamente. O assassino era amante de ambas as vítimas. Além de matar, o brasileiro ainda usou cartões de banco e de crédito dos dois.

Para se entender a trajetória desse brasileiro, cuja defesa nenhum parente ou amigo apareceu para tentar, a primeira pergunta seria: qual é o nome do sujeito? Daniel Oliveira é o que ele usa na maioria dos documentos, inclusive no passaporte. Mas, segundo a Corte Criminal, a lista de identidades assumidas pelo rapaz tem pelo menos quarto nomes. Outros dois seriam Alan Daniel de Oliveira ou José Mário de Carvalho Quevedo – um dos que mais apareceram no noticiário brasileiro sobre o caso. Filho mais velho de uma ninhada de seis ou oito irmãos, Daniel ou Alan ou José largou a pequena cidade de São Borja, no sul do país, em 1995 rumo aos Estados Unidos.

Sonhava ser modelo em Nova York. E até que tinha chances. Trata-se de um moreno de 1,80m e 72 quilos de músculos suadamente torneados – beleza agora condenada à moldura do macacão laranja-cheguei adotado nos presídios americanos. Desde 1995, o rapaz entrou e saiu várias vezes do país. Apesar de o consulado brasileiro não querer revelar se Daniel-Alan-José era ilegal nos Estados Unidos, esse entra-e-sai é típico de quem tem visto de turista e precisa sair do país com freqüência para renová-lo. “Demos todo o apoio consular a ele, independente de sua documentação”, diz um diplomata que acompanha o caso desde 1997 e que o chama pelo nome de Daniel.

Daniel-Alan-José perdeu a chance de ser modelo, mas quase ficou famoso como a segunda pessoa a ser condenada à pena de morte no estado de Nova York. A pena máxima foi posta em prática em 1995 e o brasileiro só escapou porque o atual defensor público distrital tem aversão à guilhotina. Preso em 1997, Daniel-José-Alan sempre alegou ser inocente. Mas a quantidade de versões que apresenta para cada fato convenceu a Justiça de que seus depoimentos não eram confiáveis. No julgamento segunda-feira, segundo o funcionário que deu informações a no., Daniel-Alan-José entrou mudo e saiu calado. Até porque não fala inglês. O estado de Nova York, além de pagar o advogado do rapaz, ainda desembolou os custos de uma intérprete durante todo o processo jurídico. A única família presente no julgamento foi o casal de filhos de uma das vítimas.

Apesar de bem instalado na Avendia Park South, em Manhattan, o advogado de Daniel-Alan-José, Robert Reyes, está longe de fazer parte do time de celebridades da esfera legal que desfila por Nova York. Procurado, ele não quis dar declarações. “Não posso revelar nada sobre o meu cliente”, disse. Reyes apelou para a redução da pena, mas segundo a Corte Criminal, além de este ser um procedimento automático, as chances de Daniel-Alan-José ter a pena reduzida são nulas. O rapaz parece ter realizado enfim o antigo sonho de morar para sempre em Nova York.


[ copyright © 2004 by Tania Menai ]

---

voltar