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Questão de química
13.março.2002

Estudos mostram que o jogo compulsivo age no cérebro com o mesmo poder de drogas como a cocaína e o ópio

Tania Menai, de Nova York

Passar dias e noites nos cassinos é sinônimo de férias para muita gente. Mas, para algumas pessoas, uma aposta aqui e outra ali podem ser o começo de um pesadelo. Um estudo conduzido pela Universidade da Flórida, divulgado recentemente em Orlando, durante a conferência anual do Conselho da Flórida de Jogo Compulsivo, mostra que, comparados ao resto do país, os residentes daquele Estado têm o dobro de probabilidade de se tornar viciados em jogo. O estudo da Flórida se soma a pesquisas científicas que vêm mostrando que o jogo pode viciar tanto quanto substâncias como a nicotina ou a cocaína. Os Estados Unidos têm hoje cerca de 2,5 milhões de pessoas diagnosticadas como viciadas em jogo. Segundo as autoridades de saúde, mais 15 milhões de adultos estão no grupo de risco e podem, eventualmente, tornar-se jogadores patológicos. "Quanto mais jovem o jogador, maiores os riscos de o hábito se transformar em compulsão", diz o médico Nathan Shapira, autor da pesquisa da Flórida. "Os menos suscetíveis ao vício são aqueles apresentados ao jogo na faixa dos 27 anos."

Por muito tempo, os médicos relutaram em aceitar a idéia de que desvios de comportamento como o jogo compulsivo podiam ser considerados um vício. Agora existem poucas dúvidas de que o efeito do jogo sobre o cérebro pode, em alguns casos, equivaler a uma dose de substância tóxica. A edição de novembro da revista Science, uma das mais respeitadas publicações científicas do mundo, traz um estudo quase conclusivo a respeito do poder viciador do jogo e de outros comportamentos que os psicólogos chamam de "recompensadores" – como comer demais ou fazer sexo compulsivamente. "Nos últimos seis meses, mais e mais especialistas se renderam à idéia de que o processo cerebral que deflagra o vício químico é o mesmo desencadeado pelo jogo compulsivo", disse à Science Alan Leshner, diretor do Nida, o instituto americano de estudos do abuso químico. A relação entre os diversos vícios é tão próxima que 20% das pessoas que se excedem nas drogas e no álcool também têm problemas com jogatina. Um estudo recente que utilizou escaneamento do cérebro, realizado na Universidade Harvard, indica que o mecanismo cerebral de jogadores compulsivos é similar ao de um viciado em cocaína e de um iniciante no uso de ópio. "Isso explica por que o jogo passa a ser mais importante que a família e o trabalho, ao ser encarado como a única fonte de prazer", diz o médico Mark Gold, do Instituto do Cérebro da Universidade da Flórida, especialista em casos de vícios.


[ copyright © 2004 by Tania Menai ]

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